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domingo, 25 de setembro de 2016

Texto 2

   O texto 2 apresenta mais um sermão de Padre Antônio Vieira. Como o sermão é muito extenso colocaremos aqui apenas um trecho.

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA


   "[...] Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a palavra de Deus? - Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por que não faz fruto a palavra de Deus?  - Por culpa nossa.    Mas como em um pregador há tantas qualidades, e em uma pregação tantas leis, e os pregadores podem ser culpados em todas, em qual consistirá esta culpa?  [...]   Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda a arte e a toda a natureza? [...] Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de outra há de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombras; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? [...]"

ANÁLISE 

     No texto em prosa escrito por Pe. Antônio Vieira há uma forte influência da Contrarreforma Católica. Durante esse período histórico, a Igreja Católica abriu as portas para a Arte para que esta ajudasse na conversão e na evangelização dos fiéis. 
   No sermão, Vieira critica de forma negativa a forma como os pregadores católicos da época estavam pregando o evangelho. Segundo ele, os pregadores estavam utilizando uma linguagem de difícil entendimento para a população em geral. O fato que eu achei mais interessante foi o Padre se colocar entre os pregadores criticados por ele mesmo, tanto que diz: "[...] Por culpa nossa]". 
    Acredito que Padre Vieira tenha escrito esse sermão para "acordar" a Igreja em relação às demais religiões protestantes que estavam se alastrando por toda Europa, pois estas, talvez, tivessem um vocabulário de melhor entendimento para a maior parte da população, sem a utilização exagerada da antítese. Ou seja, o padre chamava a atenção dos pregadores no coração do trabalho destes: a pregação. 

Por: Miguel Botelho






quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Texto 1


O texto 1, é um sermão escrito pelo Padre Antônio Vieira. Como seus sermões são bem extensos, colocaremos aqui apenas um trecho:


SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES

I
"Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Suposto, pois, que ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar; que se há-de fazer a este sal e que se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab hominibus. «Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inútil para que seja pisado de todos.» Quem se atrevera a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra ou com a vida prega o contrário.
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer? Este ponto não resolveu Cristo, Senhor nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou.
Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não pegou nada da terra não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam.
Se a Igreja quer que preguemos de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vos estis sal terrae: É muito bom texto para os outros santos doutores; mas para Santo António vem-lhe muito curto. Os outros santos doutores da Igreja foram sal da terra; Santo António foi sal da terra e foi sal do mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que, nas festas dos santos, é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais que o são da minha doutrina, qualquer que ele seja tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de Santo António em Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, e noutras, de manhã e de tarde, de dia e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais necessária e importante é a esta terra para emenda e reforma dos vícios que a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem tomado dele, vós o sabeis e eu por vós o sinto. 
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer, Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria."


ANÁLISE
     
Padre Antônio Vieira, escritor de sermões, escrevia principalmente para chamar atenção dos leitores com seus temas variados. Seu estilo literário é barroco, e os sermões, repletos de metáforas, figuras de linguagens e antíteses, foram escritos com o intuito de convencer e persuadir o leitor propriamente dito.
No sermão de Santo Antônio, Cristo chama os anunciadores da palavra de Deus de "Sal da Terra". Ele quer que os pregadores sejam aquele elemento que dá sabor, como o sal, mas que também preserva da corrupção. E Santo Antônio então questiona: qual seria a causa da corrupção que assola a sociedade? Estaria faltando anunciadores para serem sal para estas pessoas? Ou simplesmente o sal não dá sabor? Será que os pregadores não estão anunciando a Cristo, mas a si mesmos?
Muitas pessoas estão tão incrédulas com tanto corrupção que estão desacreditadas. O sal ajuda a limpar "os sujos" e através dele as pessoas são purificadas pela palavra de Deus. No Antigo Testamento da bíblia, para aqueles que acreditam e a seguem, já diz: "quando uma pessoa é sal, ela faz a diferença na vida dos outros, ela não vive só para si, e sim para ajudar as pessoas que a cercam".
Santo Antônio, cansado de pregar para os hereges (indivíduos que professam uma heresia, ou seja, que questiona certas crenças estabelecidas por uma determinada religião), não desistiu de pregar a doutrina, mas mudou seu público alvo. Ao invés de pregar para homens, passou a pregar para peixes, que ficavam com a cabeça para fora da água ouvindo seus ensinamentos. Além disso, nessa primeira parte, que é a introdução ou exórdio do sermão, há a invocação da Virgem Maria.
Os textos de Vieira têm o objetivo de fazer com que os leitores pensem e reflitam mais através da razão sem deixar que a emoção atrapalhe. Assim, com a ajuda de jogos de ideias e palavras, ele se sente na necessidade e obrigação de exaltar a importância da pregação e criticar muitos dos comportamentos dos homens.

Por: Luiza Batista.

Iniciando o Barroco

Vamos trabalhar algumas questões em relação à Literatura. Introduziremos falando de dois importantes contribuidores para o avanço da Literatura nesse estilo Barroco: Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos Guerra.


Padre Antônio Vieira

Padre Antônio Vieira nasceu na cidade de Lisboa (Portugal) em 6 de fevereiro de 1608. Formou-se noviço em 1626, e além de teologia estudou lógica, física, metafísica, matemática e economia. Lecionou humanidades e retórica em Olinda e em 1634 foi ordenado sacerdote, na Bahia. Ele foi um importante religioso, orador, e escritor português do século XVII. Atuou, no Brasil, como missionário católico, da Companhia de Jesus, defendendo a liberdade dos indígenas brasileiros. É considerado um dos principais escritores e oradores sacros do barroco brasileiro, por ter escrito sermões que se tornaram importantes exemplos da literatura barroco brasileira. Além disso, foi o responsável pelo desenvolvimento da prosa. Ele Escreveu 200 sermões - entre os quais pode-se destacar o "Sermão da Sexagésima" -, cerca de 500 cartas e profecias que reuniu no livro "Chave dos Profetas", que nunca acabou. Em seus sermões polêmicos, criticava entre outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, a influencia negativa que o Protestantismo exerceria na colônia, os pregadores que não cumpriam com seu ofício de catequizar e evangelizar (seus adversários católicos) e a própria Inquisição, defendia os índios e sua evangelização, condenando os horrores vivenciados por eles nas mãos de colonos e os cristãos-novos (judeus convertidos ao Catolicismo) que aqui se instalaram. Padre Antônio Vieira morreu na cidade de Salvador (Bahia) em 18 de julho de 1697 aos 89 anos.


Principais obras


- Sermão de Santo Antônio aos Peixes
- Descrevo que era Realmente Naquele Tempo a Cidade da Bahia
- Sermão da Sexagésima
- Sermão da Quinta Dominga da Quaresma
- Sermão do Bom Ladrão
- Sermão do Mandato
- Sermão do Espírito Santo
- Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal, contra as da Holanda
- Sermão de Nossa Senhora do Rosário


Frases

- "Sem Angola, não há negros e sem negros não há Pernambuco."

- "Ódio e Amor são os dois mais poderosos afetos da vontade humana."

- "Para falar ao vento bastam palavras;, mas para falar ao coração são necessárias obras."



Gregório de Matos Guerra: o Boca do Inferno

Gregório de Matos e Guerra foi um importante poeta colonial brasileiro do século XVII. Nasceu em 7 de abril de 1633, na cidade de Salvador (Bahia). Gregório era o terceiro filho de um fidalgo português, estabelecido no Recôncavo baiano como senhor de engenho, e de uma brasileira. Ao contrário dos irmãos mais velhos que não se adequaram aos estudos e dedicaram a ajudar o pai na fazenda, Gregório recebeu instrução na infância e adolescência. Era de uma família rica, formada por empreiteiros e altos funcionários administrativos. Estudou num colégio Jesuíta da Bahia, continuou seus estudos na cidade de Lisboa e depois na Universidade de Coimbra, onde se formou em Direito. Neste país fez carreira de jurista. Ao retornar ao Brasil, passou a viver de trabalhos na área jurídica, mas também começou sua dedicação à literatura. Passou a escrever sátiras sobre a sociedade da época. Em função de suas críticas duras aos integrantes da sociedade (políticos, religiosos, empresários) ganhou o apelido de “boca do inferno”. Também escreveu poemas de caráter erótico e amoroso. As autoridades locais começaram a ficar descontentes com as críticas e passaram a perseguir Gregório de Matos, preso em 1694 e foi deportado para Angola (África). Depois de um tempo, ganhou a autorização para retornar ao Brasil. Porém, viveu na cidade de Recife. Nesta cidade, Gregório faleceu. A morte ocorreu em 26 de novembro de 1696, causada pela febre que havia contraído em Angola. Segundo os estudiosos, nesses momentos finais de vida, tornou-se mais devoto e deu vazão à poesia religiosa, em que pede perdão a Deus por seus pecados. Vale lembrar que a fama de Gregório de Matos - um dos grandes poetas barrocos não só do Brasil, mas da língua portuguesa - é devida a uma obra efetivamente sólida, em que o autor soube manejar os cânones da época, seja de modo erudito em poemas líricos de cunho filosófico e religioso, seja na obra satírica de cunho popularesco. O virtuosismo estilístico de Gregório de Matos não encontra um rival a altura na poesia portuguesa do mesmo período.


Principais obras

- Inconstância das coisas do mundo!
- Amor fiel
- Todo
- Soneto VII
- A Jesus Cristo Nosso Senhor
- Senhora Dona Bahia
- Se...
- Anjo Bento
- E isto é o Amor?
- As cousas do mundo


Por: Ilara Machado e Luiza Batista.