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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Questões de Concursos e Vestibulares


Segue algumas questões para você se aprofundar ainda mais neste tema!



Treinando


1) Questão UNICAMP

A arte colonial mineira seguia as proposições do Concílio de Trento (1545-1553), dando visibilidade ao catolicismo reformado. O artífice deveria representar passagens sacras. Não era, portanto, plenamente livre na definição dos traços e temas das obras. Sua função era criar, segundo os padrões da Igreja, as peças encomendadas pelas confrarias, grandes mecenas das artes em Minas Gerais.

(Adaptado de Camila F. G. Santiago, “Traços europeus, cores mineiras: três pinturas coloniais inspiradas em uma gravura de Joaquim Carneiro da Silva”, em Junia Furtado (org.), Sons, formas, cores e movimentos na modernidade atlântica. Europa, Américas e África. São Paulo: Annablume, 2008, p. 385.)

Considerando as informações do enunciado, a arte colonial mineira pode ser definida como:

a) renascentista, pois criava na colônia uma arte sacra própria do catolicismo reformado, resgatando os ideais clássicos, segundo os padrões do Concílio de Trento.

b) barroca, já que seguia os preceitos da Contrarreforma. Era financiada e encomendada pelas confrarias e criada pelos artífices locais.
c) escolástica, porque seguia as proposições do Concílio de Trento. Os artífices locais, financiados pela Igreja, apenas reproduziam as obras de arte sacra europeias.
d) popular, por ser criada por artífices locais, que incluíam escravos, libertos, mulatos e brancos pobres que se colocavam sob a proteção das confrarias.



2) Questão VUNESP

Ardor em firme coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:
tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando crista, em chamas derretido.
Se és fogo, como passas brandamente,
se és fogo, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.

O texto pertencente a Gregório de Matos apresenta todas as seguintes características:

a) Trocadilhos, predomínio de metonímias e de símiles, a dualidade temática da sensualidade e do refreamento, antíteses claras dispostas em ordem direta.

b) Sintaxe segundo a ordem lógica do Classicismo, a qual o autor buscava imitar, predomínio das metáforas e das antíteses, temática da fugacidade do tempo e da vida.

c) Dualidade temática da sensualidade e do refreamento, construção sintática simétrica por simetrias sucessivas, predomínio figurativo das metáforas e pares antitéticos que tendem para o paradoxo.

d) Técnica naturalista, assimetria total de construção, ordem direta inversa, imagens que prenunciam o Romantismo.

e) Verificação clássica, temática neoclássica, sintaxe preciosista evidente no uso das antíteses, dos anacolutos e das alegorias, construção assimétrica.


3) Questão Enem


Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.

Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.

Pois mandado pela Alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.

Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
o Faraó do povo brasileiro.

(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: 2006)

Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por:

a) visão cética sobre as relações sociais.

b) preocupação com a identidade brasileira.

c) crítica velada à forma de governo vigente.

d) reflexão sobre dogmas do Cristianismo.

e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.



4) (FUVEST-SP)

"Nasce o Sol, e não dura mais que um dia.

Depois da luz, se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria."

Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos Guerra, a principal característica do Barroco é:

a) culto da Natureza

b) a utilização de rimas alternadas

c) a forte presença de antíteses

d) culto do amor cortês

e) uso de aliterações



5) (FUVEST-SP) A respeito do Padre Antônio Vieira, pode-se afirmar:

a) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana não se ocupou de problemas locais.

b) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava.

c) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos.

d) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-o para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais.

e) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos.


6) (CENTEC-BA) Não é característica do Barroco a:

a. preferência pelos aspectos científicos da vida.

b. tentativa de reunir, num todo, realidades contraditórias.

c. angústia diante da transitoriedade da vida.

d. preferência pelos aspectos cruéis, dolorosos e sangrentos do mundo, numa tentativa de mostrar ao homem a sua miséria.

e. intenção de exprimir intensamente o sentido da existência, expressa no abuso da hipérbole.




GABARITO


1) Alternativa: B

Justificativa: As artes plásticas do barroco, no Brasil, só se desenvolveram no século XVIII, também conhecido como “século do ouro”. Nesse período, as igrejas seguiam as influências barrocas em sua construção, junto aos preceitos da Contra-reforma, com o intuito de reforçar o sentimento religioso, o que confirma a letra B. As letras A, C e E estão erradas porque, nas artes plásticas, as obras seguiam as demandas de corporações eclesiásticas e voltava-se também à exigência de um público nobre.

2) Alternativa: C

Justificativa: Podemos perceber, a partir da análise da poesia “Lágrimas de amor: fogo e neve”, o dualismo barroco presente nos versos de Gregório de Matos através da mistura de religiosidade e sensualismo, misticismo e erotismo, valores terrenos e aspirações espirituais, idéias dispostas por meio de metáforas, especialmente com o uso de paradoxos. Assim podemos ver que as outras alternativas não estão corretas porque não atendem ao enunciado.

3) Alternativa: C

Justificativa: O texto de Gregório de Matos apresenta uma intertextualidade clara.Recordando as Característica da poética deste escritor, podemos observar que Gregório utilizava a sua literatura como um meio de criticar a sociedade de sua época, ainda que o fizesse por meio de metáforas, como ocorre no texto acima.

4) Alternativa: C

Justificativa: As letras D e E não apresentam nenhuma informação característica da estrofe, isso porque não há aliterações nem o culto do amor cortês. A letra A pode ser um pouco confusa pelo fato de ser mencionado palavras que nos aproxima do conceito de Natureza, porém não há nenhum tipo de culto à essas palavras no texto, tal como Sol, ou noite escura. Há rimas presentes na estrofe, porém essas não são alternadas, logo, descartamos a letra B. Dessa forma, só nos resta a alternativa C, que diz respeito à presença de antíteses no trecho. 

5) Alternativa: B

Justificativa: Padre Antônio Vieira se ocupou de problemas locais e não se mostrou tímido diante dos interesses dos poderosos. Com isso já eliminamos a letra A e E. Ele, também, não utilizava Deus para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais e mesmo com sua espiritualidade, demonstrava interesse por assuntos “mundanos”. Dessa forma, tiramos as letras C e D. Logo, sobra a letra B que fala sobre a forma como ele adequava os textos bíblicos ao contexto de que se tratava. 

6) Alternativa: A

Justificativa: A única questão acima que não é característica do Barroco é a letra A, isto porque o barroco quer mostrar como a vida humana é de forma a mostrar a realidade entre o ser humano. Além disso tem grande incidência de aspectos cruéis e dolorosos nesta escola literária. Entretanto, o barroco não se preocupa com a visão científica das coisas. Logo a A é a resposta correta. 


Por: Miguel Botelho e Gabriel Fonseca.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A arte Barroca

A arte barroca surgiu em meados do século XVIII, na Itália. A igreja católica adotou o formato artístico em suas construções e propagou a nova onda cultural por vários países do continente europeu. O movimento foi criado após o desenvolvimento do Renascimento e ambos seguiam uma ideologia semelhante, em que valorizavam elementos da antiguidade.

O mundo passava por diversas descobertas e reformas sociais e políticas. A religião católica estava perdendo muitos membros para os seguidores da ideologia de Martin Lutero, com o protestantismo. Estabelecia-se, então, a Monarquia: o país era comandado por um rei ou imperador.

As obras do movimento Barroco apresentam características fortes e vivas, o que mexe com o emocional do ser humano. Ao se deparar com as construções e/ou pinturas da arte barroca, é possível observar os detalhes e a proximidade que elas têm com os seres humanos. O sentimento nas obras, a beleza, eram características bem fortes.

O Barroco chegou ao continente americano, juntamente com os colonizadores europeus. Muitas das construções dos países da América são da arte barroca. O Brasil, por exemplo, possui algumas cidades onde ainda existem essas edificações, como é o caso de Ouro Preto, em Minas Gerais. No estado da Bahia, encontram-se enormes igrejas, dos séculos passados e a influência da arte barroca se faz presente.

Não apenas em grandes edificações é que o Barroco exerce influência, mas também em objetos de decoração como os móveis, por exemplo. Ainda hoje existem camas, cômodas e outros acessórios desenhados de acordo com esse tipo de arte. Era comum o uso deles nos palácios reais e um exemplo disso era o Palácio de Versalhes, onde residia o rei Luís XIV, da França.

A arte barroca marcou a história no campo da música. A partir desse movimento, surgiram os grandes mestres da música erudita, além do nascimento dos gêneros como a ópera, a suíte e os concertos. Também os movimentos do Barroco e do Rococó marcaram grande parte da Europa e revelou um dos maiores artistas da cultura brasileira, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.


PINTURA

A arte barroca trabalhava o arranjo dos elementos dos quadros, que quase sempre formavam uma combinação diagonal. As cenas representadas eram envoltas em definida oposição do claro-escuro, contavam com a força das cores quentes, da gradação da claridade, todos esses elementos reforçavam a expressão de sentimento das obras que quase falavam aos seus interlocutores. O tema da pintura barroca foi sempre realista, mas a realidade que servia de ponto de partida para o pintor não era só a da nobreza, do clero e da burguesia, mas também a realidade da vida simples dos trabalhadores, camponeses.


"As Meninas" é uma pintura de 1656 por Diego Velázquez, o principal artista do Século de Ouro Espanhol. Ela está atualmente no Museu do Prado em Madrid.



"A Vocação de São Mateus" ou "Invocação de São Mateus" é uma pintura realizada pelo o pintor barroco italiano Caravaggio concluída em 1599-1600 para a Capela Contarelli em San Luigi dei Francesi, onde ainda se conserva em Roma.




"Judite e Holoferne" é um quadro de inspiração bíblica, de Caravaggio, pintado em 1599. A pintura amostra o general decapitado por Judite, aquela mulher que o seduziu uma noite.




ESCULTURAS

A escultura barroca é marcada por um intenso dramatismo, pela exuberância das formas, pelas expressões teatrais, pelo jogo de luz, sombra e movimento. As figuras que exibem dramatismo, faces expressivas e roupas esvoaçantes. Na Itália, destacou-se o trabalho de Bernini. Em Portugal, António Ferreira e Machado de Castro foram os escultores de maior relevo. No Brasil tornou-se célebre o Aleijadinho.

A escultura barroca contraria a ideia anterior do Renascimento: a sobriedade e racionalidade das formas. Este pensamento não se demonstrou apenas na escultura, mas também na pintura, moda, escrita e mesmo no modo de vida das pessoas. Um excelente exemplo da escultura típica do Barroco é o “O Êxtase de Santa Teresa” do consagrado escultor, Bernini.


"O êxtase de Santa Teresa", por Bernini.



Detalhes de "Caminho para o calvário", por Aleijadinho.



Aleijadinho: Passo da Paixão, no estilo dos sacro montes, no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas.




ARQUITETURA


Na arquitetura barroca, a expressão típica são as Igrejas, construídas em grande quantidade durante o movimento de Contra Reforma. Rejeitando a simetria do renascimento, destacam o dinamismo e a imponência, reforçados pela emotividade conseguida através de meandros, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos visuais, tanto nas fachadas quanto no desenho dos interiores. 

As principais características do barroco definem-se como uma reação à simetria e às formas rígidas do Renascimento: utilizam o dinamismo plástico, a suntuosidade e a imponência, reforçadas por intensa emotividade conseguida através de sinuosidades, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos perspéticos e ilusórios, tanto nas fachadas quanto no desenho das plantas e dos interiores das edificações. A intenção da criação de ilusão do movimento; combinação e abundância de linhas opostas que reforçam o efeito cénico; o uso de jogos de claro-escuro pela construção de massas salientes e reentrantes (sinuosas ou lisas). Os elementos construtivos usados como elementos puramente decorativos: uso de colunas torsas, helicoidais, duplas ou triplas e escalonadas; os frontões são compostos ou interrompidos, que reforçam o movimento ascensional das fachadas; o uso de decorações naturalistas converte-se em elementos característicos do estilo.



Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto.



Situada no norte de Portugal, a 50 km da cidade do Porto, Braga é a cidade mais antiga do país.



Talha dourada barroca no interior da Igreja de São Francisco de Salvador (primeira metade do século XVIII).



MÚSICA

A música barroca surgiu após a música renascentista, com maior complexidade e variedade. Ela reflete as tendências da época e possui características semelhantes à pintura e a arquitetura barroca, valorizando as ornamentações estéticas e com um conteúdo dramático. A música possui um ritmo de dança, melodias ricas em ornamentos, contrastes entre timbres e sonoridades fortes e suaves.

Os principais compositores foram Johann Sebastian Bach na Alemanha, George Frideric Handel na Inglaterra e Antonio Vivaldi na Itália. Bach é considerado o maior compositor do barroco alemão e sua morte é considerada como o final do período Barroco.


Casa de ópera barroca na Alemanha. Ópera Marquesal de Bayreth, na Alemanha, é considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.






LITERATURA BARROCA

A literatura barroca ocorreu no final do século XVI e início do século XVII, e é caracterizada por dilemas e oposições decorridos da crise do Renascimento. A dificuldade econômica decorrente do declínio do comércio do oriente e o posicionamento da Igreja Católica formaram grandes influências neste período. Havia nesta época um conflito entre os homens barrocos e os conservadores religiosos, pois aqueles desejavam, ao mesmo tempo, a salvação divina e os prazeres mundanos.




Características da literatura barroca


O pecado e o perdão andam juntos dentro da literatura barroca, assim como o dualismo, que é a arte do conflito. Tudo é inconstante e está em constante movimento: o bem e o mal, espírito e matéria, céu e inferno, fé e razão. Este período mostra o quanto a vida é breve e que por isso deve ser aproveitada.

Marcada por uma forte linguagem culta e erudita, a literatura barroca apresenta abusos de figuras de linguagem no texto, muitas metáforas, antítese, hipérbato, paradoxo e prosopopeia.

· Metáforas: expressão que produz sentidos figurados por meio de comparações implícitas;

· Antítese: presença de paradoxos, arte do conflito, contraposição de conceitos, palavras ou objetos distintos. Antíteses mais comuns na literatura barroca: claro e escuro, vide e morte, tristeza e alegria;

· Hipérbato: ideia de grandiosidade;

· Paradoxo: ideias contrárias em um único pensamento;

· Prosopopeia: personificação de seres inanimados, trazendo mais dinamicidade a história.


Literatura barroca no Brasil


· Gregório de matos, autor que recebeu o apelido de “Boca de Inferno” (devido à sua linguagem considerada de baixo calão, usada em seus textos), foi um dos poetas mais conhecidos do barroco brasileiro;

· Bento Teixeira, autor de “Prosopopéia”, um dos iniciantes na escola literária barroca;

· Manuel Botelho de Oliveira, autor de “Música do Parnaso”.



Por: Cássia Estéfani Marques e Fernanda Ferraz

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Texto 6



O texto seis apresenta mais um sermão do Padre Antônio Vieira. Sendo os sermões um pouco extensos, colocaremos um pequeno trecho:


Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda


“Considerai, Deus meu, e perdoai-me se falo inconsideradamente. Considerai a quem tirais as terras do Brasil e a quem as dais. Tirais estas terras aos portugueses, a quem nos princípios as destes, e bastava dizer a quem as destes, para perigar o crédito de vosso nome, que não podem dar nome de liberal mercês com arrependimento. (_) Mas, deixado isto a parte, tirais estas terras àqueles mesmos portugueses, a quem escolhestes entre todas as nações do mundo para conquistadores da vossa fé, e a quem destes por armas, como insígnia e divisa singular, vossas próprias chagas. E será bem, supremo Senhor e Governador do Universo, que às sagradas quinas de Portugal e às armas e chagas de Cristo, sucedam as heréticas listas de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus? (…)

Tirais também o Brasil aos portugueses, que assim estas terras vastíssimas, como as remotíssimas do Oriente, as conquistaram à custa de tantas vidas e tanto sangue, mais por dilatar vosso nome e vossa Fé – que esse era o zelo daqueles cristianíssimos reis – que por amplificar e estender seu império.”

(VIEIRA, Pe. Antônio. In: Vieira – sermões. 2. ed. Rio de Janeiro, Agir, 1960. p. 28-9.)


Análise

O sermão do Padre Antônio Vieira, intitulado Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, trata-se de um texto religioso redigido pelo sacerdote, com vistas à pregação que realizou no Brasil, no ano de 1640, na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, na Bahia.
Pela leitura do sermão, observa-se que seu tema se relaciona com a época da turbulência social vivida pelo país. Era em 1640; a Bahia estava a ponto de cair sob o jugo holandês. Arrebatado por uma inspiração patriótica, Vieira quis reanimar os brios dos Brasileiros e fazer ao Céu uma santa violência. Num sublime transporte de gênio compôs essa obra prima, verdadeiramente única no seu gênero, repleta das sublimes audácias de Moisés e dos Profetas. Seja qual for a ideia que façamos da pregação, é impossível não sentir a grandeza e a originalidade de tal expressividade.
Motivado pelo firme propósito de tentar impedir o jugo holandês, o Padre Antônio Vieira constrói seu sermão e o dirige ao povo que impulsionou o projeto expansionista, povo católico, impregnado de religiosidade, fiéis dominados pelas virtudes da fé, em nome da qual ampliavam suas conquistas e, consequentemente, suas riquezas.

Por: Ilara Machado

sábado, 8 de outubro de 2016

Texto 5


A INCONSTÂNCIA DAS COISAS DO MUNDO


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura, 
Em tristes sombras morre a formosura, 
Em contínuas tristezas a alegria. 

Porém se acaba o Sol, por que nascia? 
Se formosa a Luz é, por que não dura? 
Como a beleza assim se transfigura? 
Como o gosto da pena assim se fia? 

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, 
Na formosura não se dê constância, 
E na alegria sinta-se tristeza. 

Começa o mundo enfim pela ignorância, 
E tem qualquer dos bens por natureza 
A firmeza somente na inconstância.



ANÁLISE

No Poema, “A inconstância dos bens do mundo”, de Gregório de Matos temos como temática a vida como algo não permanente, ou seja, em processo de mudança. Como podemos observar esse poema não pertence a lírica religiosa. Antes, liga-se a outra vertente chamada de lírica filosófica. Nesta, Gregório reflete sobre questões envolvendo a existência e o sentimento a respeito do mundo. Esse é um dos poucos poemas que se encaixam na lírica filosófica.
Na primeira estrofe Gregório de Matos compara a idéia de luz e sol, contrapondo a idéia de escuridão e noite, há tristeza; formando-se assim um ciclo interminável. Quando nasce o sol logo após surge a noite. Quando há alegria, logo após virá à tristeza.
Na segunda estrofe, Gregório faz uma série de pergunta, na quais, ficam sem respostas. Mesmo não tendo respostas ele faz questão de modo amplo, além disso, mostra-se bastante subjetivo.
Na terceira estrofe Gregório de Matos mostra-se conformado com a idéia de que as coisas são inconstantes, Em suma, ele afirma que a única coisa constante é a inconstância.
Pode-se ressaltar a presença de antíteses. Na primeira estrofe a contraposição de “luz” e “noite escura”, “tristeza” e “alegria” que vai repetir-se ao longo do poema. Os paradoxos que remetem a idéia de que não e possível ser firme e inconstante ao mesmo tempo e a própria inconstância. Esses três elementos caracterizam uma informação muito importante de período barroco, a conflito existencial do ser humano que é o conflito que surge a partir do momento histórico no qual ele vive; momento de conflitos religiosos, norteados pelas tensões decorrentes da reforma e contra- reforma.
Podemos concluir que esse é um poema muito bom para se pensar em como as coisas passam em nossas vidas e sobre como elas mudam com o decorrer do tempo. Uma poesia escrita no século XVII e que até nos dias de hoje é muito moderna.

Por: Gabriel Fonseca

domingo, 2 de outubro de 2016

Texto 4

O principal representante da poesia barroca no Brasil, Gregório de Matos, poeta crítico, relata em suas poesias tanto a religiosidade (poesia religiosa), quanto à perdição do amor (poesia lírica), além das críticas que fazia à sociedade de sua época. Portanto, outra poesia será analisada: 

Poesia Lírica.

A D. ÂNGELA


"Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e anjo florente,
Em quem, se não em vós se uniformara?


Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?


Se como anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares,


Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os anjos nunca dão pesares,
Sois anjo, que me tenta, e não me guarda."




ANÁLISE


Este é um soneto de versos decassílabos com rimas regulares, ou seja, rimas opostas nos dois quartetos, e rimas alternadas nos dois tercetos. Nesta poesia lírica podemos observar: de um lado a ideia do amor, que pode ser um amor doloroso e sofrido, e de outro lado a figura feminina (Cujo nome Angélica, nome de flor e em latim “ângelus” – anjo), é vista como uma perdição, um pecado que atormenta. Essa poesia é fortemente marcada pelo dualismo amoroso CARNE X ESPÍRITO. Pertencente ao Barroco, o poema segue a corrente Cultista por incorporar recursos estilísticos que tornam a linguagem rebuscada, refinada, constituindo assim, uma leitura obscura e de difícil entendimento. São três as figuras de linguagem encontradas: hipérbatos, metáforas e antítese. 
Na primeira estrofe o poeta tenta fazer uma síntese entre flor e anjo, com a imagem de uma mulher construída por uma beleza pura. Logo depois, se observa o uso de uma figura de linguagem , a antítese, característica marcante dos textos barrocos, entre o plano material (flor) e o espiritual (anjo). Nesta poesia, a mulher – identificada inicialmente com a figura de um anjo, o qual remete à pureza angelical contida no próprio nome ÂNGELA e depois com uma grandeza maior, é vista como um ser superior.
A segunda estrofe aborda o desejo do poeta: ao ver uma flor tão bela, sente vontade de tê-la para si (Quem veria uma flor, que a não cortara...?). Mas, quando é associada a um anjo tem de ser idolatrada (E quem um Anjo tão luzente, / Que por seu Deus, o não idolatra?). Já que sua amada representa a figura de um anjo, é melhor apenas protegê-la e guardá-la, pois sabe que é uma tentação apenas vê-la, como se dissesse "a carne é fraca". Mas, na ultima estrofe, Gregório deixa clara que a hipótese não se confirma na estrofe anterior, pois, sua amada por ser tão formosa e elegante (Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,) acaba conquistando-o e ele não resiste. Ao invés de proteger – papel que caberia ao anjo, – a mulher, com sua beleza, leva-o ao desejo e, consequentemente, ao pecado. Por isso, o eu lírico, em um apelo dramático aos próprios olhos, pede a eles que se ceguem. Do contrário ele será levado à morte, isto é, à perdição espiritual. Eis então, o drama amoroso do Barroco: o apelo sensorial do corpo se contrapõe à ideia do religioso, gerando sentimento de culpa.


Por: Fernanda Ferraz

Texto 3

Além dos Sermões de Vieira, vamos apresentar algumas poesias do autor Gregório de Matos.

A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR


"Pequei, Senhor; mas não por que hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido: 
Porque, quanto mais tenho delinqüido, 
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 

Se basta a vos irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um só gemido: 
Que a mesma culpa que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado 

Se uma ovelha perdida e já cobrada 
Glória tal e prazer tão repentino 
Vos deu, como afirmais na sacra história, 

Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada; 
Cobrai-a ; e não queirais, pastor divino, 
Perder na vossa ovelha a vossa glória."




ANÁLISE


Esta é uma poesia de Gregório de Matos que apresenta uma regularidade formal. Além disso, questiona o mundo e os homens, abordando, dessa forma, os valores religiosos. Nos temas que abrangem a religiosidade, Gregório de Matos destaca o medo da punição divina e o desespero pela busca do perdão, princípios que geralmente são associados ao arrependimento na hora da morte. Isso reflete a vários fatores: um deles é o clero, por ter explorado as populações ingênuas com a venda de indulgências, prometendo ainda, que quanto mais pagassem à igreja, mais era garantido seu lugar no céu. Vale ressaltar também, que o homem barroco não era um homem feliz, pois vivia dividido entre as conquistas do pensamento renascentista e a necessidade de voltar-se para Deus, buscando o perdão de seus pecados. É possível observar esta passagem na bíblia, no evangelho de Lucas, capítulo 15, versículos de 2 a 7, na qual é mencionada a parábola da ovelha perdida. A parábola diz ainda que: “... haverá maior júbilo no céu por um pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.".


Por: Cássia Estéfani Marques