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domingo, 2 de outubro de 2016

Texto 4

O principal representante da poesia barroca no Brasil, Gregório de Matos, poeta crítico, relata em suas poesias tanto a religiosidade (poesia religiosa), quanto à perdição do amor (poesia lírica), além das críticas que fazia à sociedade de sua época. Portanto, outra poesia será analisada: 

Poesia Lírica.

A D. ÂNGELA


"Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e anjo florente,
Em quem, se não em vós se uniformara?


Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?


Se como anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares,


Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os anjos nunca dão pesares,
Sois anjo, que me tenta, e não me guarda."




ANÁLISE


Este é um soneto de versos decassílabos com rimas regulares, ou seja, rimas opostas nos dois quartetos, e rimas alternadas nos dois tercetos. Nesta poesia lírica podemos observar: de um lado a ideia do amor, que pode ser um amor doloroso e sofrido, e de outro lado a figura feminina (Cujo nome Angélica, nome de flor e em latim “ângelus” – anjo), é vista como uma perdição, um pecado que atormenta. Essa poesia é fortemente marcada pelo dualismo amoroso CARNE X ESPÍRITO. Pertencente ao Barroco, o poema segue a corrente Cultista por incorporar recursos estilísticos que tornam a linguagem rebuscada, refinada, constituindo assim, uma leitura obscura e de difícil entendimento. São três as figuras de linguagem encontradas: hipérbatos, metáforas e antítese. 
Na primeira estrofe o poeta tenta fazer uma síntese entre flor e anjo, com a imagem de uma mulher construída por uma beleza pura. Logo depois, se observa o uso de uma figura de linguagem , a antítese, característica marcante dos textos barrocos, entre o plano material (flor) e o espiritual (anjo). Nesta poesia, a mulher – identificada inicialmente com a figura de um anjo, o qual remete à pureza angelical contida no próprio nome ÂNGELA e depois com uma grandeza maior, é vista como um ser superior.
A segunda estrofe aborda o desejo do poeta: ao ver uma flor tão bela, sente vontade de tê-la para si (Quem veria uma flor, que a não cortara...?). Mas, quando é associada a um anjo tem de ser idolatrada (E quem um Anjo tão luzente, / Que por seu Deus, o não idolatra?). Já que sua amada representa a figura de um anjo, é melhor apenas protegê-la e guardá-la, pois sabe que é uma tentação apenas vê-la, como se dissesse "a carne é fraca". Mas, na ultima estrofe, Gregório deixa clara que a hipótese não se confirma na estrofe anterior, pois, sua amada por ser tão formosa e elegante (Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,) acaba conquistando-o e ele não resiste. Ao invés de proteger – papel que caberia ao anjo, – a mulher, com sua beleza, leva-o ao desejo e, consequentemente, ao pecado. Por isso, o eu lírico, em um apelo dramático aos próprios olhos, pede a eles que se ceguem. Do contrário ele será levado à morte, isto é, à perdição espiritual. Eis então, o drama amoroso do Barroco: o apelo sensorial do corpo se contrapõe à ideia do religioso, gerando sentimento de culpa.


Por: Fernanda Ferraz

5 comentários:

  1. Adorei sua análise,Fernanda! Eu lendo as poesias não entendia muita coisa, talvez pela linguagem que é utilizada. A forma com que você utilizou para fazer a explicação ficou muito clara, e bem fácil de ser entendida, você explicou bem detalhadamente adorei, e gostei muito do texto que você escolheu!

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  2. O texto apresenta uma linguagem de difícil compreensão, mas isso não atrapalhou à nossa colega Fernanda de fazer uma ótima analise. Gostei da forma como o eu-lírico fala sobre seus desejos e da escolha das palavras pelo autor. Achei fantástico. Me aproximou ainda mais do tempo em que fora escrito. Muito bom!

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  3. Gostei bastante de sua análise! Muito interessante o fato de que a figura feminina é vista como anjo e flor, pois o feminino eleva-se ao plano celestial. A poesia lírica apresentada acima possui uma visão do amor como sentimento marcado pela idealização da mulher amada e perfeita, que encanta e o faz se apaixonar, além de toda tentação. Durante toda a poesia podemos observar também, como muito bem mencionado, algumas características do barroco: uso de antíteses e metáforas. Ao mesmo tempo usada a "metáfora da beleza" para designar a mulher como "flor", foi usada a "metáfora da pureza" para designar a mulher como um "anjo".
    Por: Luiza Batista

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  4. Uma ótima análise! Mesmo com uma linguagem de difícil compreensão, o texto ficou totalmente esclarecido. Muito boa marcação sobre o dualismo amoroso pertencente ao barroco!

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  5. Parabéns pelo texto e pela análise, Fernanda. Porém, esperava mais dos comentários. Apenas a Luiza complementou a análise. Cássia, faltou o seu comentário.

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