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sábado, 8 de outubro de 2016

Texto 5


A INCONSTÂNCIA DAS COISAS DO MUNDO


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura, 
Em tristes sombras morre a formosura, 
Em contínuas tristezas a alegria. 

Porém se acaba o Sol, por que nascia? 
Se formosa a Luz é, por que não dura? 
Como a beleza assim se transfigura? 
Como o gosto da pena assim se fia? 

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, 
Na formosura não se dê constância, 
E na alegria sinta-se tristeza. 

Começa o mundo enfim pela ignorância, 
E tem qualquer dos bens por natureza 
A firmeza somente na inconstância.



ANÁLISE

No Poema, “A inconstância dos bens do mundo”, de Gregório de Matos temos como temática a vida como algo não permanente, ou seja, em processo de mudança. Como podemos observar esse poema não pertence a lírica religiosa. Antes, liga-se a outra vertente chamada de lírica filosófica. Nesta, Gregório reflete sobre questões envolvendo a existência e o sentimento a respeito do mundo. Esse é um dos poucos poemas que se encaixam na lírica filosófica.
Na primeira estrofe Gregório de Matos compara a idéia de luz e sol, contrapondo a idéia de escuridão e noite, há tristeza; formando-se assim um ciclo interminável. Quando nasce o sol logo após surge a noite. Quando há alegria, logo após virá à tristeza.
Na segunda estrofe, Gregório faz uma série de pergunta, na quais, ficam sem respostas. Mesmo não tendo respostas ele faz questão de modo amplo, além disso, mostra-se bastante subjetivo.
Na terceira estrofe Gregório de Matos mostra-se conformado com a idéia de que as coisas são inconstantes, Em suma, ele afirma que a única coisa constante é a inconstância.
Pode-se ressaltar a presença de antíteses. Na primeira estrofe a contraposição de “luz” e “noite escura”, “tristeza” e “alegria” que vai repetir-se ao longo do poema. Os paradoxos que remetem a idéia de que não e possível ser firme e inconstante ao mesmo tempo e a própria inconstância. Esses três elementos caracterizam uma informação muito importante de período barroco, a conflito existencial do ser humano que é o conflito que surge a partir do momento histórico no qual ele vive; momento de conflitos religiosos, norteados pelas tensões decorrentes da reforma e contra- reforma.
Podemos concluir que esse é um poema muito bom para se pensar em como as coisas passam em nossas vidas e sobre como elas mudam com o decorrer do tempo. Uma poesia escrita no século XVII e que até nos dias de hoje é muito moderna.

Por: Gabriel Fonseca

5 comentários:

  1. Gregório de Matos trabalha muito com pessimismo, presente fortemente no barroco. Utilizando antíteses, mostra os contrastes da vida, e como mencionado acima, na segunda parte da poesia, as dúvidas ficam claras, somente perguntas aparecem e por fim, se percebe muito o uso de antítese como nos últimos versos em que o poeta comenta “E na alegria sinta-se tristeza” e “A firmeza somente na inconstância”.

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  2. Gostei muito da análise. O poeta utiliza a temática da passagem do tempo, a instabilidade das coisas, a inconstância da natureza, da condição humana, as incertezas da vida e a transitoriedade dos fatos cotidianos. Há a presença de figuras de linguagem como metáforas, antíteses e paradoxos, sempre ligadas à questão de ideias contrárias, características do período barroco. Além disso, nota-se uma visão pessimista, mostrada em versos como "Em tristes sombras morre a formosura,/Em contínuas tristezas a alegria". Em cada momento o eu- lírico faz um jogo de palavras supondo que uma acontece após a outra, ou até ao mesmo tempo, e assim, ele conclui com a certeza que a única firmeza que se tem é o da inconstância, ou seja, nada é constante.
    Por: Luiza Batista

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  3. Muito bom! O poeta tem como característica o uso de antítese marcantes em todo o texto. Como no verso: "Depois da Luz se segue a noite escura". Luz e noite escura são coisas completamente opostas. Além disso, por meio do texto, Gregório de Matos tenta nos mostrar valores da vida. O mais marcante de todo o texto é a constante mudança entre em os opostos. Uma hora estamos felizes, em outra estamos tristes. Porem, vejo isso com uma forma diferente. Quando o eu-lírico diz: "e na alegria sinta-se tristeza" sinto que na verdade o autor quis passar uma visão de que não há felicidade completa nas coisas do mundo, por isso elas vivem em constante inconstância.
    Por: Miguel Botelho

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  4. Gostei muito do poema, ele é repleto de antíteses e paradoxos, expressões linguísticas da contradição do contexto da época. Tem como tema a vida como algo extremamente inconstante, um processo contínuo de mudanças. Além disso, nota-se uma visão pessimista, mostrada em versos como "Em tristes sombras morre a formosura,/Em contínuas tristezas a alegria."
    Um ótimo poema para se pensar em como as coisas passam em nossas vidas e sobre como elas mudam com o passar do tempo. Uma poesia escrita no século XVII e que até hoje é muito atual. Não é por nada que Gregório de Matos foi considerado um dos melhores poetas do período barroco!!

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  5. Gostei muito da análise de vocês. Gabriel, observe que na sua primeira linha você cita o título do poema: "A inconstância dos bens do mundo". Porém, o título do poema é: "A inconstância das coisas do mundo". Cássia, você não vai participar?

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