O texto seis apresenta mais um sermão do Padre Antônio Vieira. Sendo os sermões um pouco extensos, colocaremos um pequeno trecho:
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda
“Considerai, Deus meu, e perdoai-me se falo inconsideradamente. Considerai a quem tirais as terras do Brasil e a quem as dais. Tirais estas terras aos portugueses, a quem nos princípios as destes, e bastava dizer a quem as destes, para perigar o crédito de vosso nome, que não podem dar nome de liberal mercês com arrependimento. (_) Mas, deixado isto a parte, tirais estas terras àqueles mesmos portugueses, a quem escolhestes entre todas as nações do mundo para conquistadores da vossa fé, e a quem destes por armas, como insígnia e divisa singular, vossas próprias chagas. E será bem, supremo Senhor e Governador do Universo, que às sagradas quinas de Portugal e às armas e chagas de Cristo, sucedam as heréticas listas de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus? (…)
Tirais também o Brasil aos portugueses, que assim estas terras vastíssimas, como as remotíssimas do Oriente, as conquistaram à custa de tantas vidas e tanto sangue, mais por dilatar vosso nome e vossa Fé – que esse era o zelo daqueles cristianíssimos reis – que por amplificar e estender seu império.”
(VIEIRA, Pe. Antônio. In: Vieira – sermões. 2. ed. Rio de Janeiro, Agir, 1960. p. 28-9.)
Análise
O sermão do Padre Antônio Vieira, intitulado Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, trata-se de um texto religioso redigido pelo sacerdote, com vistas à pregação que realizou no Brasil, no ano de 1640, na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, na Bahia.
Pela leitura do sermão, observa-se que seu tema se relaciona com a época da turbulência social vivida pelo país. Era em 1640; a Bahia estava a ponto de cair sob o jugo holandês. Arrebatado por uma inspiração patriótica, Vieira quis reanimar os brios dos Brasileiros e fazer ao Céu uma santa violência. Num sublime transporte de gênio compôs essa obra prima, verdadeiramente única no seu gênero, repleta das sublimes audácias de Moisés e dos Profetas. Seja qual for a ideia que façamos da pregação, é impossível não sentir a grandeza e a originalidade de tal expressividade.
Motivado pelo firme propósito de tentar impedir o jugo holandês, o Padre Antônio Vieira constrói seu sermão e o dirige ao povo que impulsionou o projeto expansionista, povo católico, impregnado de religiosidade, fiéis dominados pelas virtudes da fé, em nome da qual ampliavam suas conquistas e, consequentemente, suas riquezas.
Por: Ilara Machado
Para entendermos o sermão é necessário saber a época e o contexto em que tudo ocorreu, como muito bem mencionado em sua análise. Escrito na época da turbulência social vivida pelo país, o sermão mostra a importância da oratória. De início, o Sermão faz alusão a um trecho dos Salmos da Bíblia, em que o autor, pressionado pelas circunstâncias, muito mais que clamar, ‘‘exige’’ de Deus um livramento imediato: ‘‘Desperta! Por que dormes, Senhor... Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por amor das tuas misericórdias’’- parte não mencionada no trecho acima -. Além disso, Vieira dirige-se indiretamente ao público enquanto conversa com Deus, como se estivesse em um palco. Como Vieira é um autor conceptista, ele representa as contradições e os excessos do espírito barroco. Importante ressaltar a estrutura de seus sermões – verdadeiros textos dissertativos.
ResponderExcluirPor: Luiza Batista
Ótimo texto! O sermão só consegue ser entendido melhor após estar situado contexto histórico. Alem disso, Padre Antonio Vieira retoma a tempos anteriores no sermão em varias partes. Vale relembrar também que esses sermões de padre vieira eram realizados em igrejas e que eram para a população em geral que frequentava a Igreja (quase toda a sociedade). É possível perceber também uma forte presença de nacionalismo em suas frases, mostrando defesa em relação a Portugal em muitos trechos. Vemos também a presença de características do barroco no texto mostrando um clima de tenção entre a fé e a razão.
ResponderExcluirAo pesquisar sobre o sermão prestei mais atenção em relação a um aspecto do texto de Vieira, o teocentrismo. Deus dá as terras do Brasil a Portugal e tira essas mesmas terras e as entrega à Holanda. Essa interpretação teocêntrica dos fatos é uma herança medieval revigorada pela Contra-Reforma.
ResponderExcluirEntretanto, é interessante observar que Vieira dispõe do teocentrismo segundo seus interesses imediatos; nesse caso, os jesuítas temiam uma dominação de algumas regiões do Nordeste por parte dos holandeses, que eram protestantes. Mais do que isso: ao mesmo tempo em que coloca os acontecimentos como manifestações da vontade de Deus, Vieira diz que Deus não sabe o que está fazendo ao entregar o Brasil aos hereges holandeses. E ao criticar uma decisão divina, Vieira assume uma postura nitidamente antropocêntrica.
Ao interpretar a realidade de um ponto de vista teocêntrico e, ao mesmo tempo, antropocêntrico, Vieira está sendo tipicamente um homem barroco.
Como já dito nos comentários, o contexto histórico é essencial para melhor compreensão. Podemos observar a relação com a época de turbulência social vivida pelo país em que a Bahia estava ponto de cair sobre o domínio holandês. Vieira de forma persuasiva incita os brasileiros a luta armada, deixando claro que Portugal esta perdendo o brasil para os holandeses.
ResponderExcluirPor: Gabriel Fonseca
Pessoal, infelizmente, encontrei várias coisas que vocês escreveram aqui em outros sites. Não façam isso, pois pode ser considerado plágio. Sempre que usarem o texto de outra pessoa, coloquem a referência. Cássia, você não vai mesmo participar?
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