A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
"Pequei, Senhor; mas não por que hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido:
Porque, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a ; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória."
ANÁLISE
Esta é uma poesia de Gregório de Matos que apresenta uma regularidade formal. Além disso, questiona o mundo e os homens, abordando, dessa forma, os valores religiosos. Nos temas que abrangem a religiosidade, Gregório de Matos destaca o medo da punição divina e o desespero pela busca do perdão, princípios que geralmente são associados ao arrependimento na hora da morte. Isso reflete a vários fatores: um deles é o clero, por ter explorado as populações ingênuas com a venda de indulgências, prometendo ainda, que quanto mais pagassem à igreja, mais era garantido seu lugar no céu. Vale ressaltar também, que o homem barroco não era um homem feliz, pois vivia dividido entre as conquistas do pensamento renascentista e a necessidade de voltar-se para Deus, buscando o perdão de seus pecados. É possível observar esta passagem na bíblia, no evangelho de Lucas, capítulo 15, versículos de 2 a 7, na qual é mencionada a parábola da ovelha perdida. A parábola diz ainda que: “... haverá maior júbilo no céu por um pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.".
Por: Cássia Estéfani Marques
A poesia sacra de Gregório de Matos é um grande expoente da conflituosa relação entre o homem e sua religião no século XVII. Outro ponto que descobri foi que, segundo a biografia de Gregório de Matos, esse poema foi escrito às vésperas de sua morte. Tem-se, portanto, uma espécie de última confissão a Deus, o balanço final da vida do poeta. Uma vida marcada evidentemente pelo pecado e pela transgressão, da qual o autor se arrepende profundamente às portas do fim, assumindo-se como um pecador: "Pequei, Senhor". Interessante ele ter resgatado uma parábola bíblica da ovelha desgarrada e ter se comparado e ela: "Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada". É importante também reconhecer que neste poema, existe uma fusão entre as duas vertentes da estética barroca: o conceptismo - a argumentação lógica, tão evidente nos sermões do Padre Antônio Vieira - e o cultismo - a poesia com finalidade última de beleza.
ResponderExcluirCássia, gostei muito da poesia e de sua analise, confesso que a poesia em si, foi um pouco difícil de ser compreendida, mas com sua analise ficou bem mais fácil. Gostei muito do fato de que Gregório questiona o mundo e os homens utilizando os valores religiosos.
ResponderExcluirGostei da sua analise, Cassia. Pode deixar o texto mais atraente com ela. Acho muito interessante quando os autores remetem a Deus ou a Igreja em suas poesias pois ajudam em minha vida. Achei extraordinário a forma como o autor conduz o texto e leva o leitor a ler as entrelinhas. Muito bom trabalho!
ResponderExcluirMuito boa sua análise. O poema faz parte da lírica religiosa de Gregório de Matos. O poeta cria seu argumento desse poema baseado em um argumento bíblico, (a parábola da ovelha desgarrada - que é perdoada quando volta) para tentar se redimir de seus pecados e provar que ainda pode ser perdoado por algo que fez, pois reconhece seus erros e se vê como um pecador. Além disso, ele alega que a ausência de perdão representaria o fim da glória divina. E isso é muito interessante, analisar o contexto da época e da própria vida do autor, para que assim, possamos entender melhor do que se trata a leitura. Inserido na estética barroca, o poema lança mão de diversos de seus elementos. Nota-se a forma clássica de soneto decassílabo, de rimas e inspiração camoniana. Também podemos observar um dos sustentáculos do Barroco, o gosto pelas oposições, na forma de antíteses e paradoxos espalhados por todo o poema: a oposição entre o "pecado" do homem e a "clemência" divina.
ResponderExcluirPor: Luiza Batista
A análise ajudou muito na interpretação da poesia, mesmo com uma regularidade formal. Gregório de Matos questiona temas que abrangem a religiosidade, e um fato que chama muito a atenção é o destaque sobre o medo da punição divina e a busca desesperadora por perdão.
ResponderExcluirPessoal, gostei muito da interpretação e da análise de vocês. Alguns alunos conseguiram mostrar as características Barrocas presentes no texto. Porém, alguns ainda podem melhorar os comentários.
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