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domingo, 20 de novembro de 2016

Questões Arcadismo

1) ENEM 2016 - Arcadismo


Soneto VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quando pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera.

(COSTA, C.M. Poemas. Disponível em www.dominiopublico.gov.br

No soneto de Claudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma:

(A) angústia provocada pela sensação de solidão.
(B) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
(C) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
(D) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
(E) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.
Gabarito oficial: E

Não aparece muito explícito qual é o tema da questão, mas o leitor que fizer a leitura com atenção concluirá que o tema é o Arcadismo. Claudio Manuel da Costa — autor do poema — é um dos principais escritores daquele movimento literário.
O texto de Claudio é representativo de algumas das características árcades: o fugere urbem, o bucolismo e locus amoenus, presentes no retorno ao campo e no desejo explícito de vida tranquila que outrora o eu lírico vislumbrara (“Uma fonte aqui houve”; “Árvores aqui vi florescentes”). O desejo de tranquilidade se contrapõe à realidade, uma vez que o eu lírico demonstra ter encontrado um lugar diferente daquele guardado em sua memória (“Eu me engano: a região esta não era; / Mas que venho a estranhar, se estão presentes /Meus males, com que tudo degenera.”).



2) ENEM 2015 - Arcadismo


Soneto VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quando pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera.
(COSTA, C.M. Poemas. Disponível em www.dominiopublico.gov.br


No soneto de Claudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma:
(A) angústia provocada pela sensação de solidão.
(B) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
(C) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
(D) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
(E) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.
Gabarito oficial: E

Esta é uma questão de nível difícil, pois – em uma leitura desatenta – o estudante pode não perceber a relação entre o texto de 1975 e a produção literária do século XVIII. O aluno deve observar que o poema usado no Exame tem características estéticas do Concretismo, mas sua referência são os poetas árcades, envolvidos com a Inconfidência Mineira.
A primeira referência ao movimento literário do século XVIII é o título: “Casa dos Contos” é um dos prédios do sistema de museus de Ouro Preto (antiga Vila Rica). A construção foi, originalmente, a “Casa de Contratos”, destinada ao recolhimento de impostos; no entanto, em 1789, passou a ser a Sede da Administração e Contabilidade Pública da Capitania de Minas Gerais (daí ser chamada Casa dos Contos) e serviu de prisão aos Inconfidentes (entre eles, os Tomás Antônio Gonzaga e Claudio Manoel da Costa).
O estudante deve perceber que o poema é uma descrição do prédio onde os inconfidentes foram presos: “… em cada porta…”, “… em cada arco…”, “… em cada porta”…, “… em cada fosso…”, “… em cada Claudio…”.

Por: Ilara Machado


3) Assinale o que não se refere ao Arcadismo:


a) Época do Iluminismo (século XVIII) – Racionalismo, clareza, simplicidade.
b) Volta aos princípios clássicos greco-romanos e renascentistas (o belo, o bem, a verdade, a perfeição, a imitação da natureza).
c) Ornamentação estilística, predomínio da ordem inversa, excesso de figuras.
d) Pastoralismo, bucolismo suaves idílios campestres.
e) Apóia-se em temas clássicos e tem como lema: inutilia truncat (“corta o que é inútil”).

Alternativa C. A escola árcade tinha seu contexto histórico no século XVIII, período em que há uma alteração significativa sobre o comportamento humano com o predomínio da visão antropocêntrica e a liberdade de expressão, junto às influências culturais e científicas do Renascimento, o que confirma as alternativas A e B. Além disso, na temática árcade percebemos um cultivo ao sentimento pastoril e uma forte relação do homem com o ambiente campestre, o que aborda um contraste com o cenário urbano, descrito pelos árcades como um ambiente que influencia os indivíduos à valorização de bens materiais, o que torna o ambiente urbano um cenário conturbado e caótico. O lema árcade “Inutilia Truncat” aborda essa relação, pois cortando o inútil, no caso, os desejos supérfluos, há uma valorização da simplicidade e, consequentemente, uma vida mais feliz, de forma que também confirma as alternativas D e E. Já na letra C, essas características fazem referência à estética literária do Barroco.


4) (UFPR) Leia o poema abaixo:


“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que vive de guardar alheio gado;
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelado e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”

O texto tem traços que caracterizam o período literário ao qual pertence. Uma qualidade patente nesta estrofe é:

a) o bucolismo;
b) o misticismo;
c) o nacionalismo;
d) o regionalismo;
e) o indianismo.

Alternativa A. As alternativas B, C, D e E não fazem relação com a estética árcade, uma vez que o misticismo só surge na temática literária em meados do século XIX, e não há características de predomínio nacionalista. Ademais, no poema, há a presença do convencionalismo amoroso, aspecto presente na literatura árcade e o eu lírico não aprofunda uma descrição de uma região específica, tampouco explora sobre o tema indianista. Com isso, percebemos que a letra A aborda sobre a qualidade do bucolismo, que consiste na referência ao ambiente campestre e na simplicidade da vida no campo, mas que pode proporcionar a felicidade pelos pequenos momentos.


5) (UFSC) Considere as afirmativas sobre Barroco e o Arcadismo:


1. Simplificação da língua literária – ordem direta – imitação dos antigos gregos e romanos.
2. Valorização dos sentidos – imaginação exaltada – emprego dos vocábulos raros.
3. Vida campestre idealizada como verdadeiro estado de poesia-clareza-harmonia.
4. Emprego frequente de trocadilhos e de perífrases – malabarismos verbais – oratória.
5. Sugestões de luz, cor e som – antítese entre a vida e a morte – espírito cristão antiterreno

Assinale a opção que só contém afirmativas sobre o Arcadismo:
a) 1, 4 e 5
b) 2, 3 e 5
c) 2, 4 e 5
d) 1 e 3
e) 1, 2 e 5

Alternativa D. Dado o entendimento do enunciado, as alternativas podem conter informações sobre o período Barroco. Percebemos esses aspectos nos itens 2, 4 e 5 (correspondente às letras A, B, C e E). No barroco, devido à dualidade de pensamentos entre as visões teocêntrica e antropocêntrica, há uma oposição entre os ideais do eu lírico, com isso, percebemos a presença de trocadilhos e figuras de linguagem como antítese e paradoxo, que expressam o contraste dessas ideias. Além disso, na linguagem barroca, há uma valorização sobre a norma culta e erudita, com a presença de vocábulos raros. Já na letra D, os itens 1 e 3 abordam sobre as características árcades, uma vez que há uma valorização sobre as influências renascentistas e a predominância da harmonização de ideias, como também a presença de um vocabulário mais simples.


6) (PUC-Campinas) Podemos dizer que as principais características do movimento arcádico são:


a) a busca do claro, do racional, do verossímil e o desenvolvimento de temas pastoris.
b) o sentimento religioso, inspirado na Contra-Reforma.
c) presença do tema da morte e de temas pastoris.
d) apologia dos contrastes, onde cada palavra deveria ser símbolo conotativo de seu oposto.
e) n. d. a.

Alternativa C.

Fontes: https://descomplica.com.br/blog/exercicios-resolvidos/questao-comentada-arcadismo/
http://maiseducativo.com.br/arcadismo-exercicios-de-literatura-com-gabarito/

Por: Luiza Batista

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

AS CARTAS CHILENAS


·         O QUE SÃO?
Cartas Chilenas é um conjunto de poemas, escritos em versos decassílabos e brancos, com uma metrificação parecida com a da epopeia, e circularam anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788, seus versos assumem um tom satírico.
As Cartas Chilenas fazem referência à situação administrativa da Colônia entregue aos abusos de dom Luís da Cunha Menezes. Em treze cartaz, a personagem descreve os desmandos do governador do Chile.
Essas cartas retomam uma longa tradição satírica da literatura que, em língua portuguesa, surgiu com a poesia trovadoresca. Foi feita para circular em ambientes públicos, apresentavam estrutura e vocabulário simples para que as ideias chegassem sem grandes dificuldades à população. Exerceram um papel próximo ao dos jornais que, muito tempo depois, auxiliaram seus leitores na construção de uma mentalidade crítica.
A leitura de algumas passagens das Cartas chilenas permite identificar o tom de denúncia e de crítica aos poderosos, indicando a visão política de Gonzaga e seus companheiros.

·         EXEMPLOS:
Abaixo está um pequeno trecho das 13 Cartas Chilenas.
“Agora, Fanfarrão, agora falo
Contigo, e só contigo. Por que causa
Ordenas que se faça uma cobrança
Tão rápida e tão forte contra aqueles
250 -- Que ao erário só devem tênues somas?
Não tens contratadores, que ao rei devem,
De mil cruzados centos e mais centos?
Uma só quinta parte, que estes dessem,
Não matava do erário o grande empenho?
255 -- O pobre, porque é pobre, pague tudo,
E o rico, porque é rico, vai pagando
Sem soldados à porta, com sossego!
Não era menos torpe, e mais prudente,
Que os devedores todos se igualassem?
260 -- Que, sem haver respeito ao pobre ou rico,
Metessem, no erário, um tanto certo,
À proporção das somas que devessem?
Indigno, indigno chefe! Tu não buscas
O público interesse. Tu só queres
265 -- Mostrar ao sábio augusto um falso zelo,
Poupando, ao mesmo tempo, os devedores,
Os grossos devedores, que repartem
Contigo os cabedais, que são do reino."


ANÁLISE
No texto acima vemos uma conversa entre o eu-lírico e o Fanfarrão. Nesse caso, Fanfarrão, que significa presunçoso, contador de vantagens, é o governador e a crítica claramente se dirige a ele.
A forte cobrança de impostos para o erário (conjunto de recursos financeiros públicos) de pessoas com dividas insignificantes; desigualdade social, são algumas das muitas coisas criticadas por Gonzaga nas cartas Chilenas.
Vemos também, a presença de um tom de denuncia em relação aos poderosos que abusavam de seu poder para com os menos favorecidos da sociedade.
O mais legal das Cartas Chilenas é que figuras como dom Luis da Cunha Meneses, como muitas outras figuras políticas da época, serviram de inspiração para muitos dos personagens das cartas, o que ressaltava ainda mais o tom satírico dos poemas.

Por Miguel Botelho e Gabriel Fonseca.


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Texto 6

A Morte de Lindóia

Um frio susto corre pelas veias
De Caitutu, que deixa os seus no campo;
E a irmã por entre as sombras do arvoredo
Busca co'a vista e teme de encontrá-la.
Entram enfim na mais remota e interna
Parte de antigo bosque, escuro e negro,
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte, que murmura,
Curva latada de jasmins e rosas.
Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores.
Tinha a face na mãe e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto,
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia e cinge
Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse, no fugir, a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco e quis três vezes
Soltar o tiro e vacilou três vezes,
Entre a ira e o temor. Enfim, sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia e fere
A serpente na testa, e a boca, e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co'a ligeira cauda
O irado monstro, e, em tortuosos giros,
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva no braço a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que, ao despertá-la
Conhece, com que dor!, no frio rosto
Os sinais do veneno e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.

Basílio da Gama, O Uraguai, IV, 140-186



Análise 

O Uraguai é uma obra de Basílio da Gama, poeta brasileiro. A história “Morte de Lindóia” se passa em um povoado onde os nativos foram catequizados por Balda, um padre da Espanha. Neste local, vive Cacambo, que simboliza a coragem, e Lindóia, ícone da delicadeza. Os dois formam um casal. Balda é representado como um religioso pérfido que engravida uma nativa, que dá a luz a Baldeta, personagem visto por todos como má pessoa. Com o objetivo de tornar a situação do filho um pouco mais amena na aldeia, o padre Balda casa Baldeta com Lindóia.
Então, o religioso manda Cacambo para missões onde o índio corre risco de vida, mas o guerreiro sempre retorna são, frustrando os planos do padre. Em uma destas ocasiões, Cacambo acaba sendo capturado pelos homens do General Gomes Freire, que acabam descobrindo que o verdadeiro vilão é o padre jesuíta e deixam que o nativo volte para alertar a aldeia sobre os perigos dos jesuítas.
Em seu retorno, o povoado mostra-se alegre e ele começa a tentar desmascarar os jesuítas. Porém, Balda mata Cacambo por envenenamento. Lindóia demora a acreditar que seu homem está morto, mas, depois se convence de que foi o padre que o matou. Então aceita casar com Baldeta. No dia do casamento, a mulher se mata, deixando que uma cobra peçonhenta lhe pique.
Nos versos do poema a descrição da morte de Lindóia é apresentada de forma fantasiosa e bucólica, características típicas do Arcadismo.

Fonte: http://www.infoescola.com/livros/o-uraguai/


Por:Gabriel Fonseca 

Texto 5


Cláudio Manoel da Costa (1729-1789)


Soneto
X

 Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo, 
Porás a ovelha branca, e o cajado; 
E ambos ao som da flauta magoado 
Podemos competir de extremo a extremo. 

Principia, pastor; que eu te não temo; 
Inda que sejas tão avantajado 
No cântico amebeu: para louvado 
Escolhamos embora o velho Alcemo. 

Que esperas? Toma a flauta, principia; 
Eu quero acompanhar te; os horizontes 
Já se enchem de prazer, e de alegria: 

Parece, que estes prados, e estas fontes 
Já sabem, que é o assunto da porfia 
Nise, a melhor pastora destes monte


Análise

Também conhecido como o "guardador de rebanhos" Glauceste Satúrnio, seu pseudônimo, Cláudio Manoel da Costa nasceu na cidade de Mariana (em Minas Gerais). Estudou Direito em Coimbra, onde teve contato com as principais ideias do Iluminismo e, ao voltar para o Brasil, fundou da Arcádia Ultramarina em Vila Rica. Era um homem muito rico e de posses que influenciou a elite intelectual da época. Por ter participado da Inconfidência Mineira, foi preso e encontrado enforcado na cadeia em 1789.Os temas iniciais de sua obra giram em torno das reflexões morais e das contradições da vida com forte inspiração nos modelos barrocos. Posteriormente, dedicou-se à poesia bucólica e pastoril na qual a natureza funciona como um refúgio para o poeta que busca a vida longe da cidade e reflete o as angustias e o sofrimento amoroso com sua musa inacessível Nise. Estes poemas fazem parte do conjunto intitulado Obras (1768). Cláudio Manoel da Costa também se dedicou à exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras cidades da região mineradora e desbravadores do interior do país e de contar a história da cidade de Ouro Preto no poemeto épico Vila Rica (1773).


Por: Ilara Machado

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Texto 4

        A poesia abaixo é uma das poesias de Cláudio Manuel (1729-1789), grande poeta árcade brasileiro. 


Destes penhascos fez a natureza
 O berço, em que nasci! oh quem cuidara,
 Que entre penhas tão duras se criara
 Uma alma terna, um peito sem dureza!

 Amor, que vence os tigre por empresa
 Tomou logo render-me; ele declara
 Contra o meu coração guerra tão rara,
 Que não me foi bastante a fortaleza.

 Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
 A que dava ocasião minha brandura,
 Nunca pude fugir ao cego engano:

 Vós, que ostentais a condição mais dura,
 Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.”
(COSTA, Claudio Manuel da)


ANALISE
            Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) fazia parte de uma classe de brasileiros típica do século XVIII no Brasil. Estudou em Coimbra, Portugal, e por isso possuía sólida formação cultural e intelectual. Enquanto esteve estudando pela Europa, mesmo com a forte influência do Barroco, conheceu o Arcadismo português e apreciou o seu aspecto inovador. Antes de retornar ao Brasil, passou pela Itália, onde se ingressou na Academia dos Árcades de Roma, estudou italiano e produziu cantatas e sonetos nesta língua.
            Ao voltar para Vila Rica (Minas Gerais), exerceu muitos cargos de importância na cidade. Claudio Manuel foi um referencial para os poetas brasileiros, grandes leitores de suas obras, por ser respeitado como intelectual e figura pública. Sua casa era um local de encontro entre alguns desses poetas, chegando até a fundar, em 1768, uma Arcádia com nome de Colônia Ultramarina. Viveu cercado de poetas, religiosos, militares de patente alta e outras pessoas. É provável que conversas sobre a Inconfidência Mineira tenha ocorrido em sua casa.
            A publicação de suas obras é o marco inicial do Arcadismo brasileiro, o que revela a sua grande importância no contexto de produção desse tipo de poesia no Brasil. Publicada em 1768, a obra trata de elementos da paisagem irregular da região de Vila Rica e Mariana. Pedras, serras e montanhas misturam-se com imagens de convenção árcade, como ninfas (vindas da cultura greco-romana, retomadas no iluminismo), pastores e gado. A natureza se torna real e simbólica ao mesmo tempo.
            O poema apresentado acima mostra uma identificação do eu lírico com a natureza ao seu redor. Na briga entre penhas (pedras) e alma, podemos ver uma das leituras possíveis do poema: a construção de uma personalidade dividida entre a sensibilidade e a dureza. É essa procura de identidade, sempre relacionada à paisagem envolta do eu lírico, que faz com que a poesia de Claudio Manuel da Costa seja tão específica do Arcadismo brasileiro.

Por Miguel Botelho

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Texto 3

A poesia a seguir, é uma das várias escritas por Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), grande poeta árcade.


Carta 1ª.

Em que se descreve a entrada, que fez
Fanfarrão em Chile.
(...)
Acorda, Doroteu, acorda, acorda;
Critilo, o teu Critilo é quem te chama:
Levanta o corpo das macias penas;
Ouvirás, Doroteu, sucessos novos,
Estranhos casos, que jamais pintaram
Na idéia do doente, ou de quem dorme
Agudas febres, desvairados sonhos.
Não és tu, Doroteu, aquele mesmo,
Que pedes, que te diga, se é verdade,
O que se conta dos barbados monos,
Que à mesa trazem os fumantes pratos?
Não desejas saber, se há grandes peixes,
Que abraçando os Navios com as longas,
Robustas barbatanas, os suspendem,
Inda que o vento, que d'alheta sopra,
Lhes inche os soltos, desrizados panos?
Não queres, que te informe dos costumes
Dos incultos Gentios? Não perguntas,
Se entre eles há Nações, que os beiços furam?
E outras, que matam com piedade falsa
Os pais, que afroxam ao poder dos anos?
Pois se queres ouvir notícias velhas,
Dispersas por imensos alfarrábios,
Escuta a história de um moderno Chefe,
Que acaba de reger a nossa Chile,
Ilustre imitador a Sancho Pança.
E quem dissera, Amigo, que podia
Gerar segundo Sancho a nossa Espanha!
Não penses, Doroteu, que vou contar-te
Por verdadeira história uma novela
Da classe das patranhas, que nos contam
Verbosos Navegantes, que já deram
Ao globo deste mundo volta inteira:
Uma velha madrasta me persiga,
Uma mulher zelosa me atormente,
E tenha um bando de gatunos filhos,
Que um chavo não me deixem, se este Chefe
Não fez ainda mais, do que eu refiro.
(...)
Tem pesado semblante, a cor é baça,
O corpo de estatura um tanto esbelta,
Feições compridas, e olhadura feia,
Tem grossas sobrancelhas, testa curta,
Nariz direito, e grande; fala pouco
Em rouco baixo som de mau falsete;
Sem ser velho, já tem cabelo ruço;
E cobre este defeito, e fria calva
À força de polvilho, que lhe deita.
Ainda me parece, que o estou vendo
No gordo rocinante escarranchado!
As longas calças pelo embigo atadas,
Amarelo colete, e sobre tudo
Vestida uma vermelha, e justa farda:
(...)


Publicado no livro Cartas Chilenas (1845).
In: GONZAGA, Tomás Antônio. Cartas chilenas. Introd. cronol. notas e estabelecimento de texto Joaci Pereira Furtado. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.50-53. (Retratos do Brasil, 1)



Análise 

Esta, como as outras cartas chilenas, denuncia as irregularidades políticas ocorridas no governo da época. Esta obra também pode ser comparada, segundo outros aspectos tratados pelos escritores nas sátiras, como o tratamento dado à religião, ao povo, à lei e à classe política. Através da leitura desta obra o leitor poderá confrontar ou comparar duas filosofias, duas visões de mundo, duas épocas importantes para a história do Brasil, aprendendo muito sobre o espírito brasileiro.
A carta é escrita em relatos na forma de versos decassílabos. Gonzaga finge escrever do Chile, contando a um amigo os abusos do governo, na cidade de Santiago. Mas percebe-se pelas circunstâncias relatadas que o país não é Chile, mas retrata Minas Gerais; que a cidade não é Santiago, mas Vila Rica e que o amigo é Cláudio Manuel da Costa, cujo pseudônimo é Doroteu e que os abusos estavam acontecendo no governo de Cunha Meneses.
Conta as injustiças e violências que Cunha Meneses "Fanfarrão" executou em seu governo, de caráter faraônico, que retrata uma obra grandiosa em objetivos e despesas executadas para servir como marco de uma administração política engrandecendo quem as empreendeu.
O comportamento de Fanfarrão é tão absolutista, que Gonzaga diz que os céus têm outra configuração, não se vê mais o Sol e a Lua, no lugar sobe um cometa que cobre toda a terra com sua cauda. Pobre Chile! Melhor seria se tivesse sido acometido pelas pragas do Egito. Depois que toma posse, Minésio, trata a todos com um desprezo que os faz sentirem saudades do governante anterior.
Uma característica bem marcante do arcadismo presente neste texto é o fingimento poético.


Fontes: https://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/13751/analise-literaria-da-obra-cartas-chilena
http://www.estudopratico.com.br/caracteristicas-do-arcadismo/


Por: Luiza Batista

Texto 2

A UMA SENHORA QUE O AUTOR CONHECEU NO RIO DE JANEIRO E VIU DEPOIS NA EUROPA - Basílio da Gama

Na idade em que eu brincando entre os pastores
Andava pela mão e mal andava,
Uma ninfa comigo então brincava
Da mesma idade e bela como as flores.

Eu com vê-la sentia mil ardores.
Ella punha-se a olhar e não falava ;
Qualquer de nós podia ver que amava,
Mas quem sabia ento que eram amores ?

Mudar de sitio à ninfa já convinha,
Foi-se a outra ribeira; e eu naquela
Fiquei sentindo a dor que n'alma tinha.

Eu cada vez mais firme, ela mais bela;
Não se lembra ela já de que foi minha,
Eu ainda me lembro que sou dela !…



ANÁLISE

Poesia apresenta 14 versos organizados em 4 estrofes, com 2 quartetos e 2 tercetos. Temos na poesia figuras de linguagem, tais como, comparação e hipérbole. No quarto verso podemos ver uma comparação, quando o eu lirico diz ''Da mesma idade e bela como as flores'', então ele acaba comparando a senhora com uma flor. A hipérbole esta presente no quinto verso, quando o eu lirico diz ''Eu com vê-la sentia mil ardores'', então quando contem uma ideia exagerada em ''mil ardores''.
A poesia mostra os sentimentos do eu-lírico á uma mulher, onde eles eram jovens e viviam uma vida simples, tendo assim como características do arcadismo o pastoralismo, bucolismo e nativismo. Mas o eu-lírico acaba sofrendo por amor quando a mulher decide-se mudar dali aonde eles viviam.



Fonte: http://arcadismo05.blogspot.com.br/p/poesias.html


Por: Cássia Estéfani Marques






Arcadismo

Texto 1

Vamos falar agora um pouco sobre o Arcadismo, movimento de reação ao Barroco. O movimento literário do século XVIII desponta em meio a momentos marcantes da história mundial.

Frei Santa Rita Durão


Caramuru
Canto II

XVII
Não era assim nas aves fugitivas,
Que umas frechava no ar, e outras em laços
Com arte o caçador tomava vivas;
Uma, porém, nos líquidos espaços
Faz com a pluma as setas pouco ativas,
Deixando a lisa pena os golpes lassos.
Toma-a de mira Diogo e o ponto aguarda:
Dá-lhe um tiro e derruba-a com a espingarda.

Estando a turba longe de cuidá-lo,
Fica o bárbaro ao golpe estremecido
E cai por terra no tremendo abalo
Da chama do fracasso e do estampido;
Qual do hórrido trovão com raio e estalo
Algum junto a quem cai fica aturdido,
Tal Gupeva ficou, crendo formada
No arcabuz de Diogo uma trovoada.

Toda em terra prostrada, exclama e grita
A turba rude em mísero desmaio,
E faz o horror que estúpida repita
Tupã, Caramuru, temendo um raio.
Pretendem ter por Deus, quando o permita
O que estão vendo em pavoroso ensaio,
Entre horríveis trovões do márcio jogo,
Vomitar chamas e abrasar com fogo.

Desde esse dia, é fama que por nome
Do grão Caramuru foi celebrado
O forte Diogo; e que escutado dome
Este apelido o bárbaro espantado.
Indicava o Brasil no sobrenome,
Que era um dragão dos mares vomitado;
Nem de outra arte entre nós antiga idade
Tem Joce, Apolo e Marte por deidade.




ANÁLISE


A obra mais famosa de Santa Rita Durão data do ano de 1781 e se chama Caramuru, na verdade, esse é o nome dado ao português Diogo Álvares Correia e tem como principal cenário o descobrimento da Bahia. A obra começa ao contar a história do português Diogo Álvares, quando sua embarcação vinda da Europa naufraga e ele é o único sobrevivente que consegue chegar à costa, mais especificamente no local onde hoje fica o litoral baiano.

Com isso, Diogo Álvares encontra os índios Tupinambás e só ganha o respeito dos nativos após disparar com uma arma de fogo, como os índios não conheciam o armamento, tomam o português Diogo Álvares como uma entidade conhecida como Tupã e o fazem viver com eles com o nome de Caramuru.

Caramuru então passa a doutrinar os nativos brasileiros com a fé cristã e passa a ensinar bons modos aos índios. Isso acontece depois que Caramuru encontra uma gruta em forma de igreja e recebe isso como um sinal de doutrinação.

Paralelo a isso Santa Rita Durão também conta em seu livro que o português Diogo se apaixona por uma índia de nome Paraguaçu, no entanto, é importante destacar que, a índia pela qual o português se apaixona é uma índia branca.

Com o passar do tempo Caramuru passa a viver e catequizar os índios brasileiros até que outra embarcação naufraga e Caramuru salva sua tripulação. Os passageiros eram franceses e o português percebe que assim poderá voltar a sua terra natal depois que uma nau francesa chega para resgatar os seus nativos. Com isso Caramuru pega Paraguaçu e foge com ela para Portugal, sua partida, no entanto não é totalmente aceita, já que o português deixa para trás muitas índias que acabaram se apaixonando por ele durante seu tempo na tribo, sendo a mais conhecida delas Moema, uma selvagem que se atira ao mar e tenta alcançar a nau francesa para fugir com seu amado, mas que acaba morrendo antes de alcançar seu objetivo.

O português Diogo Álvares então chega ao seu país com a índia branca que acaba sendo batizada de Catarina, lá a coroa lusitana os festeja e os entrega as honras da realeza de Portugal.

Sobre a obra de Santa Rita Durão

A obra de Santa Rita Durão é o reflexo de um país catequizado e explorado pelos portugueses e sua obra ficou conhecida por mostrar ao mundo o bom selvagem, aqueles índios que não apresentavam resistência em ser doutrinados e aceitavam os costumes portugueses que lhe era imposto.

Caramuru foi escrita por Santa Rita Durão em versos camonianos, ou seja, no estilo de Camões, com 10 cantos, oitava rima camoniana, versos decassílabos, e fortes influências gregas. A obra ainda conta com a divisão epopeia com invocação, narração, epílogo, dedicatória e proposição.

O brasileiro Santa Rita Durão morreu em 1784 na cidade portuguesa de Lisboa. Além da obra Caramuru, de 1781, Santa Rita Durão já havia lançado Pro anmia studiorum instauratione oratio, em 1778, mas que não foi tão disseminada como Caramuru. Dizem, no entanto, que mesmo que sua obra tenha sido um tributo ao Brasil, sua recepção foi tão fria que Santa Rita Durão decidiu destruir o que restava de Caramuru.




Fonte: http://www.resumoescolar.com.br/literatura/caramuru-a-principal-obra-de-frei-santa-rita-durao/


Por: Fernanda Ferraz

domingo, 6 de novembro de 2016

Iniciando o Arcadismo

Segue abaixo biografias de alguns de nossos poetas árcades, ou seja, relacionados ao movimento literário conhecido como arcadismo.


Cláudio Manoel da Costa (1729 – 1789)

Nasceu na cidade de Ribeirão do Carmo (hoje Mariana), em Minas Gerais, no ano de 1729. Aos vinte anos foi a Portugal para estudar Direito na faculdade de Coimbra, dividindo as obrigações do curso com a produção literária. Depois de terminada a faculdade, retorna ao Brasil onde exerce a função de advogado na então cidade de Vila Rica (hoje Ouro Preto).

Em Minas Gerais ajudou a fundar a Arcádia Ultramarina com os poetas com Manuel Inácio da Silva, Silva Alvarenga e Tomás Antônio Gonzaga entre outros poetas e intelectuais. Adotou, no ano de 1773, o pseudônimo de Glauceste Satúrnio, sob o qual escreveu a maioria de suas poesias. 

Inspirados pelo pensamento iluminista, os integrantes da Arcádia desenvolveram uma conspiração política contra o governador da capitania, culminando na Conjuração Mineira. Por essa época, sua poesia adquire um tom político e o poeta se mostra preocupado com diversas questões políticas e sociais. O movimento levou seus membros à prisão, sob acusação de lesa-majestade, isto é, de traição ao rei de Portugal. 

Por seu envolvimento na Conjuração Mineira, o poeta foi encontrado morto em sua cela no ano de 1789. A causa da sua morte ainda não foi esclarecida e alguns historiadores acreditam que ele tenha sido morto a mando do Governador, outros, que ele haveria cometido suicídio.

Anos mais tarde, ao final do século XIX, como homenagem, Claudio Manoel da Costa foi escolhido o Patrono da cadeira de número oito da Academia Brasileira de Letras.


Obras

Claudio Manoel da Costa é considerado o primeiro poeta do movimento árcade brasileiro, embora ainda apresente características barrocas em toda a sua obra, principalmente no que diz respeito ao estilos cultista e conceptista utilizados, compondo poemas perfeitos na forma e na linguagem. Por isso, costuma-se dizer que Claudio Manoel da Costa é um poeta de transição entre o barroco e o arcadismo. Além disso, seus poemas têm influência dos versos camonianos.

O início do movimento árcade na literatura brasileira tem como marco a publicação de sua coletânea de poemas intitulada Obras (1768). Diferentemente da produção poética anterior, Claudio Manoel da Costa prioriza o retrato da natureza como um local de refúgio dos problemas da vida urbana, onde o poeta/pastor pode desfrutar da vida rural.

Seus temas giram em torno de reflexões morais e das contradições da vida, além de ter escrito um poema épico, Vila Rica, no qual exalta o bandeirantes, exploradores do interior do país além, é claro, da fundação da cidade de mesmo nome.



Tomás Antônio Gonzaga (1744 – 1810)

Poeta árcade que viveu entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Nasceu na cidade de Porto em Portugal no ano de 1744 e veio para o Brasil em 1749, quando tinha apenas quatro anos. Anos mais tarde, o poeta retorna para Portugal para estudar Direito na Faculdade de Leis em Coimbra, cidade onde exerce cargos de magistratura. Intentando uma cátedra na Universidade de Coimbra, defende a tese intitulada Tratado de Direito Natural, dedicada ao Marquês de Pombal. 

Retorna ao Brasil em 1782 para a então cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas Gerais, sendo nomeado ouvidor e juiz. No mesmo ano, conheceu Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, jovem de apenas dezesseis anos, a qual inspirou a composição do conjunto de poemas intitulados Marília de Dirceu sob o pseudônimo pastoril de Dirceu. 

No ano de 1788, pede Maria Doroteia em casamento, porém, a família da jovem, muito tradicional, inicialmente se opôs ao matrimônio e só mudou de opinião com o passar do tempo. 

Tomás Antônio Gonzaga também ficou famoso por sua atuação na Conjuração Mineira, no ano de 1789, na qual vários intelectuais e pessoas influentes se insurgiram contra a monarquia portuguesa e lutavam pela independência da colônia.

Prestes a se casar com Marília, Gonzaga é preso pelo envolvimento na Conjuração e, na cela, escreve grande parte de Marília de Dirceu. O poeta havia começado a obra dedicada à Maria Doroteia ainda antes de ir para a prisão e dá seguimento da mesma enquanto estivera no cárcere, o que explica a mudança drástica de tom no decorrer dos poemas. 

No ano de 1792 é exilado em Moçambique a fim de cumprir sua pena. Naquele país, hospeda-se na casa de um rico comerciante de escravos e, no ano de 1793 contrai matrimônio com a filha dele, Juliana de Souza Mascarenhas, com quem tem dois filhos. Falece no ano de 1810.


Obras

Após o exílio na África, é editada a primeira parte da obra Marília de Dirceu. Publicado incialmente em três partes nos anos de 1792, 1799 e 1812 (a última após a morte do poeta). Nessa obra, Gonzaga é um pastor abastado que vive os idílios da vida no campo e canta para sua amada Marília e a natureza ao seu redor. Inicialmente, o poeta escreve sobre temas como o amor, a felicidade, a vida com sua amada e os sonhos de uma família. Como assinala o crítico José de Nicola, Gonzaga discorre sobre os temas sempre sob uma postura patriarcalista, defendendo também a tradição e a propriedade, além disso, o crítico chama atenção para o caráter da obra que, embora receba o nome da amada, em momento algum mostra a voz da mesma. Portanto, o conjunto de poemas pode ser considerado um monólogo, em que apenas o poeta expressa seus sentimentos. Na prisão, há a mudança de tom em Marília de Dirceu e o poeta passa a refletir sobre justiça e sobre seu destino. 

Antes de ir para a prisão, Gonzaga escreve uma série de poemas satíricos em forma de correspondência sob o título de Cartas Chilenas. Nelas, Critilo, um habitante de Santiago do Chile, critica os mandos e desmandos do governador Fanfarrão Minésio. Na realidade, Santiago seria Vila Rica e, seu governador, Luís da Cunha Meneses (então governador de Minas Gerais). Além disso, endereça as cartas para Doroteu, que era, na realidade, o também poeta árcade Claudio Manoel da Costa.



Basílio da Gama (1741-1795)

José Basílio da Gama nasceu em 1741 na cidade de São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes, em Minas Gerais. Falece em Lisboa no dia 31 de julho de 1795. 

Foi para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio dos Jesuítas e era noviço quando os jesuítas foram expulsos do país. Exilou-se na Itália e filiou-se na Arcádia Romana, sob o pseudônimo de Termindo Sipílio. É preso por jesuitismo, em Lisboa, e enviado para Angola, livrando-se do exílio ao escrever um poema para a filha do Marquês de Pombal. 

Em 1769 publica o poema épico O Uraguai, criticando os jesuítas e defendendo a política do Marquês de Pombal que o transforma em oficial da Secretaria do Reino. A crítica recaía no fato de que os jesuítas não defendiam os índios, apenas pretendiam falsamente libertá-los e usar a mão de obra indígena para proveito próprio. 

Em 1750, com o Tratado de Madrid, a missão dos Sete Povos passaria aos portugueses enquanto que Colônia de Sacramento, no Uruguai, passaria para os espanhóis. O poema narra a luta dos portugueses contra os índios das Missões (instigados pelos jesuítas espanhóis) que se recusam a sair de suas terras, dando início aos conflitos conhecidos como as Guerra Guaranítica (1754-56). 

A crítica recai, principalmente, sobre o personagem Balda, padre jesuíta que encarna o mal. Corrupto e desleal, seduz uma índia e tem um filho com ela, Baldeta. Na aldeia moram também o chefe da tribo Cacambo e sua mulher Lindóia, casal que representa a força do guerreiro e a beleza e delicadeza da índia. Balda quer forçar Lindóia a se casar com Baldeta, enviando Cacambo para as batalhas na esperança de que o índio morra para uni-la a seu filho. 

No Canto II, Basílio da Gama relata o encontro entre os caciques Sepé Tiaraju e Cacambo com o comandante português Gomes Freire de Andrada, ocorrido às margens do rio Uruguai (chamado então de "Uraguai"). O comandante tenta estabelecer um acordo com os índios, sem sucesso, dando início aos combates. 

O cacique Sepé Tiaraju lidera a disputa e acaba morto. Cacambo, seu sucessor, é capturado e descobre que o perigo estava o tempo todo na mão dos jesuítas. Os portugueses, então, permitem que ele retorne a sua aldeia para alertar seus companheiros contra os perigos dos jesuítas. De volta, o valente guerreiro é envenenado por Balda e Lindóia, vendo-se forçada a casar com Baldeta, comete suicídio, deixando-se picar por uma cobra venenosa. 

Segundo o crítico literário Alfredo Bosi no estudo História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: Cultrix, 2006), Basílio da Gama é o homem do fim do século XVIII "cujos valores pré-liberais prenunciam a Revolução e se manteriam com o idealismo romântico". Assim, pode-se dizer que O Uraguai prenuncia muitos dos aspectos que serão desenvolvidos durante o movimento do Romantismo. 


Características principais do poema:

- exaltação da natureza e do "bom selvagem", atribuindo aos jesuítas a culpa pelo envolvimento dos índios na luta; 

- rompimento da estrutura poética camoniana; 

- inovação no gênero épico: versos decassílabos brancos, isto é, sem rima, sem divisão de estrofes e divididos em apenas cinco cantos; 

- ao contrário da tradição épica, o poema conta um acontecimento recente na história do país; 

- inicia o poema pela narração; 

- discursos permeados por ideias iluministas.




Santa Rita Durão (1722-1784)

José de Santa Rita Durão nasceu em Cata-Preta, nas proximidades de Mariana em Minas Gerais. Ingressa na Ordem de Santo Agostinho, em Portugal, e lá permanece até sua morte em 1784.

Seu trabalho mais conhecido é o Caramuru (1781), cujo subtítulo, Poema épico do descobrimento da Bahia, remonta ao tempo em que os primeiros europeus chegaram ao Brasil e travaram contato com os nativos.

Caramuru é o nome dado ao português Diogo Álvares Correia que passa a viver entre os índios Tupinambás após sobreviver a um naufrágio no litoral baiano. Considerado um herói "cultural", que ensina as leis e as virtudes aos "bárbaros" que aqui viviam, ganha o respeito dos índios ao disparar uma arma de fogo. Os índios, assustados, equiparam-no a Tupã e passam a respeitá-lo como uma entidade enviada. Ele se encanta com Paraguaçu, a bela índia de pele branca. Já instalado na tribo, Diego percebe a possibilidade de difundir a fé cristã para os índios, doutrinando-os após ter encontrado uma gruta que se assemelharia a uma igreja.

Mais adiante, Diego ajuda a resgatar a tripulação de um barco espanhol que havia naufragado e vê a possibilidade de retornar à Europa através da nau francesa que viera resgatar aquela tripulação. Parte, com Paraguaçu, deixando para trás as belas índias que haviam se apaixonado por ele, incluindo Moema, a mais bela, que atira-se ao mar em direção ao navio na tentativa de alcançar o seu amado. Ao chegar na Europa, Paraguaçu é batizada de Catarina, ambos são festejados e recebem as honras da realeza lusitana.


Moema (1866), por Victor Meireles

O poema segue a estrutura dos versos camonianos (de Camões) e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega: composto por 10 cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana. Segue também com a divisão tradicional das epopeias: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. 


Fonte: http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/arcadismo02.php


Por: Cássia Estéfani Poubel e Fernanda Ferraz.