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domingo, 6 de novembro de 2016

Iniciando o Arcadismo

Segue abaixo biografias de alguns de nossos poetas árcades, ou seja, relacionados ao movimento literário conhecido como arcadismo.


Cláudio Manoel da Costa (1729 – 1789)

Nasceu na cidade de Ribeirão do Carmo (hoje Mariana), em Minas Gerais, no ano de 1729. Aos vinte anos foi a Portugal para estudar Direito na faculdade de Coimbra, dividindo as obrigações do curso com a produção literária. Depois de terminada a faculdade, retorna ao Brasil onde exerce a função de advogado na então cidade de Vila Rica (hoje Ouro Preto).

Em Minas Gerais ajudou a fundar a Arcádia Ultramarina com os poetas com Manuel Inácio da Silva, Silva Alvarenga e Tomás Antônio Gonzaga entre outros poetas e intelectuais. Adotou, no ano de 1773, o pseudônimo de Glauceste Satúrnio, sob o qual escreveu a maioria de suas poesias. 

Inspirados pelo pensamento iluminista, os integrantes da Arcádia desenvolveram uma conspiração política contra o governador da capitania, culminando na Conjuração Mineira. Por essa época, sua poesia adquire um tom político e o poeta se mostra preocupado com diversas questões políticas e sociais. O movimento levou seus membros à prisão, sob acusação de lesa-majestade, isto é, de traição ao rei de Portugal. 

Por seu envolvimento na Conjuração Mineira, o poeta foi encontrado morto em sua cela no ano de 1789. A causa da sua morte ainda não foi esclarecida e alguns historiadores acreditam que ele tenha sido morto a mando do Governador, outros, que ele haveria cometido suicídio.

Anos mais tarde, ao final do século XIX, como homenagem, Claudio Manoel da Costa foi escolhido o Patrono da cadeira de número oito da Academia Brasileira de Letras.


Obras

Claudio Manoel da Costa é considerado o primeiro poeta do movimento árcade brasileiro, embora ainda apresente características barrocas em toda a sua obra, principalmente no que diz respeito ao estilos cultista e conceptista utilizados, compondo poemas perfeitos na forma e na linguagem. Por isso, costuma-se dizer que Claudio Manoel da Costa é um poeta de transição entre o barroco e o arcadismo. Além disso, seus poemas têm influência dos versos camonianos.

O início do movimento árcade na literatura brasileira tem como marco a publicação de sua coletânea de poemas intitulada Obras (1768). Diferentemente da produção poética anterior, Claudio Manoel da Costa prioriza o retrato da natureza como um local de refúgio dos problemas da vida urbana, onde o poeta/pastor pode desfrutar da vida rural.

Seus temas giram em torno de reflexões morais e das contradições da vida, além de ter escrito um poema épico, Vila Rica, no qual exalta o bandeirantes, exploradores do interior do país além, é claro, da fundação da cidade de mesmo nome.



Tomás Antônio Gonzaga (1744 – 1810)

Poeta árcade que viveu entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Nasceu na cidade de Porto em Portugal no ano de 1744 e veio para o Brasil em 1749, quando tinha apenas quatro anos. Anos mais tarde, o poeta retorna para Portugal para estudar Direito na Faculdade de Leis em Coimbra, cidade onde exerce cargos de magistratura. Intentando uma cátedra na Universidade de Coimbra, defende a tese intitulada Tratado de Direito Natural, dedicada ao Marquês de Pombal. 

Retorna ao Brasil em 1782 para a então cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas Gerais, sendo nomeado ouvidor e juiz. No mesmo ano, conheceu Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, jovem de apenas dezesseis anos, a qual inspirou a composição do conjunto de poemas intitulados Marília de Dirceu sob o pseudônimo pastoril de Dirceu. 

No ano de 1788, pede Maria Doroteia em casamento, porém, a família da jovem, muito tradicional, inicialmente se opôs ao matrimônio e só mudou de opinião com o passar do tempo. 

Tomás Antônio Gonzaga também ficou famoso por sua atuação na Conjuração Mineira, no ano de 1789, na qual vários intelectuais e pessoas influentes se insurgiram contra a monarquia portuguesa e lutavam pela independência da colônia.

Prestes a se casar com Marília, Gonzaga é preso pelo envolvimento na Conjuração e, na cela, escreve grande parte de Marília de Dirceu. O poeta havia começado a obra dedicada à Maria Doroteia ainda antes de ir para a prisão e dá seguimento da mesma enquanto estivera no cárcere, o que explica a mudança drástica de tom no decorrer dos poemas. 

No ano de 1792 é exilado em Moçambique a fim de cumprir sua pena. Naquele país, hospeda-se na casa de um rico comerciante de escravos e, no ano de 1793 contrai matrimônio com a filha dele, Juliana de Souza Mascarenhas, com quem tem dois filhos. Falece no ano de 1810.


Obras

Após o exílio na África, é editada a primeira parte da obra Marília de Dirceu. Publicado incialmente em três partes nos anos de 1792, 1799 e 1812 (a última após a morte do poeta). Nessa obra, Gonzaga é um pastor abastado que vive os idílios da vida no campo e canta para sua amada Marília e a natureza ao seu redor. Inicialmente, o poeta escreve sobre temas como o amor, a felicidade, a vida com sua amada e os sonhos de uma família. Como assinala o crítico José de Nicola, Gonzaga discorre sobre os temas sempre sob uma postura patriarcalista, defendendo também a tradição e a propriedade, além disso, o crítico chama atenção para o caráter da obra que, embora receba o nome da amada, em momento algum mostra a voz da mesma. Portanto, o conjunto de poemas pode ser considerado um monólogo, em que apenas o poeta expressa seus sentimentos. Na prisão, há a mudança de tom em Marília de Dirceu e o poeta passa a refletir sobre justiça e sobre seu destino. 

Antes de ir para a prisão, Gonzaga escreve uma série de poemas satíricos em forma de correspondência sob o título de Cartas Chilenas. Nelas, Critilo, um habitante de Santiago do Chile, critica os mandos e desmandos do governador Fanfarrão Minésio. Na realidade, Santiago seria Vila Rica e, seu governador, Luís da Cunha Meneses (então governador de Minas Gerais). Além disso, endereça as cartas para Doroteu, que era, na realidade, o também poeta árcade Claudio Manoel da Costa.



Basílio da Gama (1741-1795)

José Basílio da Gama nasceu em 1741 na cidade de São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes, em Minas Gerais. Falece em Lisboa no dia 31 de julho de 1795. 

Foi para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio dos Jesuítas e era noviço quando os jesuítas foram expulsos do país. Exilou-se na Itália e filiou-se na Arcádia Romana, sob o pseudônimo de Termindo Sipílio. É preso por jesuitismo, em Lisboa, e enviado para Angola, livrando-se do exílio ao escrever um poema para a filha do Marquês de Pombal. 

Em 1769 publica o poema épico O Uraguai, criticando os jesuítas e defendendo a política do Marquês de Pombal que o transforma em oficial da Secretaria do Reino. A crítica recaía no fato de que os jesuítas não defendiam os índios, apenas pretendiam falsamente libertá-los e usar a mão de obra indígena para proveito próprio. 

Em 1750, com o Tratado de Madrid, a missão dos Sete Povos passaria aos portugueses enquanto que Colônia de Sacramento, no Uruguai, passaria para os espanhóis. O poema narra a luta dos portugueses contra os índios das Missões (instigados pelos jesuítas espanhóis) que se recusam a sair de suas terras, dando início aos conflitos conhecidos como as Guerra Guaranítica (1754-56). 

A crítica recai, principalmente, sobre o personagem Balda, padre jesuíta que encarna o mal. Corrupto e desleal, seduz uma índia e tem um filho com ela, Baldeta. Na aldeia moram também o chefe da tribo Cacambo e sua mulher Lindóia, casal que representa a força do guerreiro e a beleza e delicadeza da índia. Balda quer forçar Lindóia a se casar com Baldeta, enviando Cacambo para as batalhas na esperança de que o índio morra para uni-la a seu filho. 

No Canto II, Basílio da Gama relata o encontro entre os caciques Sepé Tiaraju e Cacambo com o comandante português Gomes Freire de Andrada, ocorrido às margens do rio Uruguai (chamado então de "Uraguai"). O comandante tenta estabelecer um acordo com os índios, sem sucesso, dando início aos combates. 

O cacique Sepé Tiaraju lidera a disputa e acaba morto. Cacambo, seu sucessor, é capturado e descobre que o perigo estava o tempo todo na mão dos jesuítas. Os portugueses, então, permitem que ele retorne a sua aldeia para alertar seus companheiros contra os perigos dos jesuítas. De volta, o valente guerreiro é envenenado por Balda e Lindóia, vendo-se forçada a casar com Baldeta, comete suicídio, deixando-se picar por uma cobra venenosa. 

Segundo o crítico literário Alfredo Bosi no estudo História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: Cultrix, 2006), Basílio da Gama é o homem do fim do século XVIII "cujos valores pré-liberais prenunciam a Revolução e se manteriam com o idealismo romântico". Assim, pode-se dizer que O Uraguai prenuncia muitos dos aspectos que serão desenvolvidos durante o movimento do Romantismo. 


Características principais do poema:

- exaltação da natureza e do "bom selvagem", atribuindo aos jesuítas a culpa pelo envolvimento dos índios na luta; 

- rompimento da estrutura poética camoniana; 

- inovação no gênero épico: versos decassílabos brancos, isto é, sem rima, sem divisão de estrofes e divididos em apenas cinco cantos; 

- ao contrário da tradição épica, o poema conta um acontecimento recente na história do país; 

- inicia o poema pela narração; 

- discursos permeados por ideias iluministas.




Santa Rita Durão (1722-1784)

José de Santa Rita Durão nasceu em Cata-Preta, nas proximidades de Mariana em Minas Gerais. Ingressa na Ordem de Santo Agostinho, em Portugal, e lá permanece até sua morte em 1784.

Seu trabalho mais conhecido é o Caramuru (1781), cujo subtítulo, Poema épico do descobrimento da Bahia, remonta ao tempo em que os primeiros europeus chegaram ao Brasil e travaram contato com os nativos.

Caramuru é o nome dado ao português Diogo Álvares Correia que passa a viver entre os índios Tupinambás após sobreviver a um naufrágio no litoral baiano. Considerado um herói "cultural", que ensina as leis e as virtudes aos "bárbaros" que aqui viviam, ganha o respeito dos índios ao disparar uma arma de fogo. Os índios, assustados, equiparam-no a Tupã e passam a respeitá-lo como uma entidade enviada. Ele se encanta com Paraguaçu, a bela índia de pele branca. Já instalado na tribo, Diego percebe a possibilidade de difundir a fé cristã para os índios, doutrinando-os após ter encontrado uma gruta que se assemelharia a uma igreja.

Mais adiante, Diego ajuda a resgatar a tripulação de um barco espanhol que havia naufragado e vê a possibilidade de retornar à Europa através da nau francesa que viera resgatar aquela tripulação. Parte, com Paraguaçu, deixando para trás as belas índias que haviam se apaixonado por ele, incluindo Moema, a mais bela, que atira-se ao mar em direção ao navio na tentativa de alcançar o seu amado. Ao chegar na Europa, Paraguaçu é batizada de Catarina, ambos são festejados e recebem as honras da realeza lusitana.


Moema (1866), por Victor Meireles

O poema segue a estrutura dos versos camonianos (de Camões) e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega: composto por 10 cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana. Segue também com a divisão tradicional das epopeias: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. 


Fonte: http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/arcadismo02.php


Por: Cássia Estéfani Poubel e Fernanda Ferraz.

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