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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Texto 4

        A poesia abaixo é uma das poesias de Cláudio Manuel (1729-1789), grande poeta árcade brasileiro. 


Destes penhascos fez a natureza
 O berço, em que nasci! oh quem cuidara,
 Que entre penhas tão duras se criara
 Uma alma terna, um peito sem dureza!

 Amor, que vence os tigre por empresa
 Tomou logo render-me; ele declara
 Contra o meu coração guerra tão rara,
 Que não me foi bastante a fortaleza.

 Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
 A que dava ocasião minha brandura,
 Nunca pude fugir ao cego engano:

 Vós, que ostentais a condição mais dura,
 Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.”
(COSTA, Claudio Manuel da)


ANALISE
            Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) fazia parte de uma classe de brasileiros típica do século XVIII no Brasil. Estudou em Coimbra, Portugal, e por isso possuía sólida formação cultural e intelectual. Enquanto esteve estudando pela Europa, mesmo com a forte influência do Barroco, conheceu o Arcadismo português e apreciou o seu aspecto inovador. Antes de retornar ao Brasil, passou pela Itália, onde se ingressou na Academia dos Árcades de Roma, estudou italiano e produziu cantatas e sonetos nesta língua.
            Ao voltar para Vila Rica (Minas Gerais), exerceu muitos cargos de importância na cidade. Claudio Manuel foi um referencial para os poetas brasileiros, grandes leitores de suas obras, por ser respeitado como intelectual e figura pública. Sua casa era um local de encontro entre alguns desses poetas, chegando até a fundar, em 1768, uma Arcádia com nome de Colônia Ultramarina. Viveu cercado de poetas, religiosos, militares de patente alta e outras pessoas. É provável que conversas sobre a Inconfidência Mineira tenha ocorrido em sua casa.
            A publicação de suas obras é o marco inicial do Arcadismo brasileiro, o que revela a sua grande importância no contexto de produção desse tipo de poesia no Brasil. Publicada em 1768, a obra trata de elementos da paisagem irregular da região de Vila Rica e Mariana. Pedras, serras e montanhas misturam-se com imagens de convenção árcade, como ninfas (vindas da cultura greco-romana, retomadas no iluminismo), pastores e gado. A natureza se torna real e simbólica ao mesmo tempo.
            O poema apresentado acima mostra uma identificação do eu lírico com a natureza ao seu redor. Na briga entre penhas (pedras) e alma, podemos ver uma das leituras possíveis do poema: a construção de uma personalidade dividida entre a sensibilidade e a dureza. É essa procura de identidade, sempre relacionada à paisagem envolta do eu lírico, que faz com que a poesia de Claudio Manuel da Costa seja tão específica do Arcadismo brasileiro.

Por Miguel Botelho

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