A Morte de Lindóia
Um frio susto corre pelas veias
De Caitutu, que deixa os seus no campo;
E a irmã por entre as sombras do arvoredo
Busca co'a vista e teme de encontrá-la.
Entram enfim na mais remota e interna
Parte de antigo bosque, escuro e negro,
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte, que murmura,
Curva latada de jasmins e rosas.
Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores.
Tinha a face na mãe e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto,
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia e cinge
Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse, no fugir, a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco e quis três vezes
Soltar o tiro e vacilou três vezes,
Entre a ira e o temor. Enfim, sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia e fere
A serpente na testa, e a boca, e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co'a ligeira cauda
O irado monstro, e, em tortuosos giros,
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva no braço a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que, ao despertá-la
Conhece, com que dor!, no frio rosto
Os sinais do veneno e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Basílio da Gama, O Uraguai, IV, 140-186
Análise
O Uraguai é uma obra de Basílio da Gama, poeta brasileiro. A história “Morte de Lindóia” se passa em um povoado onde os nativos foram catequizados por Balda, um padre da Espanha. Neste local, vive Cacambo, que simboliza a coragem, e Lindóia, ícone da delicadeza. Os dois formam um casal. Balda é representado como um religioso pérfido que engravida uma nativa, que dá a luz a Baldeta, personagem visto por todos como má pessoa. Com o objetivo de tornar a situação do filho um pouco mais amena na aldeia, o padre Balda casa Baldeta com Lindóia.
Então, o religioso manda Cacambo para missões onde o índio corre risco de vida, mas o guerreiro sempre retorna são, frustrando os planos do padre. Em uma destas ocasiões, Cacambo acaba sendo capturado pelos homens do General Gomes Freire, que acabam descobrindo que o verdadeiro vilão é o padre jesuíta e deixam que o nativo volte para alertar a aldeia sobre os perigos dos jesuítas.
Em seu retorno, o povoado mostra-se alegre e ele começa a tentar desmascarar os jesuítas. Porém, Balda mata Cacambo por envenenamento. Lindóia demora a acreditar que seu homem está morto, mas, depois se convence de que foi o padre que o matou. Então aceita casar com Baldeta. No dia do casamento, a mulher se mata, deixando que uma cobra peçonhenta lhe pique.
Nos versos do poema a descrição da morte de Lindóia é apresentada de forma fantasiosa e bucólica, características típicas do Arcadismo.
Fonte: http://www.infoescola.com/livros/o-uraguai/
Por:Gabriel Fonseca
Gostei de sua análise, mas também há outros pontos importantes presentes no texto: o poema é escrito em decassílabos brancos (versos que não possuem rimas), sem divisão em estrofes, mas é possível perceber a sua divisão em partes: proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. Foge ao esquema tradicional. Basílio foi poeta revolucionário com seu poema épico. Enquanto Cláudio trazia ao Brasil a disciplina clássica, Basilio, sem transgredi-la muito, mas movendo-se nela com maior liberdade estética e intelectual, levava à Europa o testemunho do Novo Mundo. Basílio da Gama também possuía o objetivo de descrever o conflito entre o ordenamento racional da Europa e o primitivismo do índio. O escritor mostra simpatia pelo índio vencido enquanto transfere o ataque aos jesuítas.
ResponderExcluirPor: Luiza Batista
Além das características apresentadas, podemos ressaltar também que ao contrário da tradição épica, o poema conta um acontecimento recente na história do país, o autor inicia o poema pela narração os discursos são permeados por ideias iluministas, e a cena da morte de Lindóia mostra as características típicas do movimento árcade.
ResponderExcluirQue bacana! Para entender melhor é importante que saibamos um pouco mais sobre o tema central do poema. Pelo Tratado de Madri, celebrado entre os reis de Portugal e de Espanha, as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, deveriam passar da Espanha a Portugal. Os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis, com a Colônia do Sacramento. Sete Povos das Missões eram habitados por índios e dirigidos por jesuítas, que organizaram a resistência à pretensão dos portugueses. O poema narra o que foi essa luta pela posse da terra, travada em princípios de 1757, elevando os feitos do General Gomes Freire de Andrade. Basílio da Gama dedica o poema ao irmão do Marquês de Pombal e combate os jesuítas abertamente.
ResponderExcluirPessoal, vocês estão copiando trechos da internet e não estão colocando referência. Como já disse outras vezes, isso é considerado plágio e é muito grave.
ResponderExcluirMiguel e Cássia, vocês não vão mesmo participar?
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